quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Meu pequeno pedaço de paz


Toda pessoa precisa de seu porto seguro. E a cada cidade que passei, procurava um pequeno cantinho, um lugar que me desse inspiração, calma e, de vez em quando, força para continuar vivendo minha Demanda...
Em Campo Mourão, o Bosque do Lago cumpriu essa função. 
Sempre que meu turno terminava no quartel, às 8 horas da manhã, vestia meu uniforme de educação física e corria até o bosque, perfazendo então mais algumas voltas na pista interna e parando para descansar no pequeno parque, em meio ao gramado, de frente para o lago e ao lado de uma frondosa árvore. Esse momento de descanso era sagrado. Acalentava-me nos dias que o fardo parecia muito pesado. Aliviava a distância de casa, a culpa pelas vítimas que não sobreviveram, as brigas no quartel, o turbilhão de cenas perturbadoras que um bombeiro vê turno após turno. Ali eu podia socar o chão, olhar para o lago tão manso e, eventualmente, chorar um pouco. A solidão era minha amiga nessas horas, pois sempre corria no bosque pela manhã, horário pouco frequentado, exceto por um senhor cinquentenário com preparo físico invejável e um coronel aposentado da Polícia Militar, que corria no local diariamente.
Hoje, em São José dos Pinhais, esse lugar seguro é o telhado da academia, no posto de bombeiros da Infraero, no Aeroporto Internacional Afonso Pena. Uma longa escada vertical na parede externa do edifício leva até uma laje, onde a razoável altura proporciona uma vista privilegiada. Ao leste, a serra do mar paranaense, com seus montes escondidos no dégradé de nuvens. 
Logo atrás, a oeste, São José dos Pinhais, pequena e ricamente abençoada quando o sol se põe num banho de luz avermelhada. 
Ao norte, é possível ver Curitiba em toda sua imensidão. E logo à frente, uma privilegiada visão das aeronaves decolando e pousando, numa atividade barulhenta e constante, 24 horas por dia, sete dias por semana. Eventualmente, gosto de subir nessa laje e ver o momento exato em que os aviões deixam o chão e ganham o céu, além de ver quais pilotos conseguem pousar com mais suavidade na pista de mais de dois quilômetros que atravessa o aeroporto. Para um bombeiro simples, ver essas máquinas de perto, voando com toneladas de carga e dezenas de pessoas, é fantástico. É quase um fascínio de infância.
Lembro que em Maringá – onde iniciei minha jornada de nova vida – eu não adotei um cantinho de paz. O mais próximo que tinha disso era o fliperama do shopping Avenida Center, onde extravasava a aflição da escola de soldados nas máquinas de Pump e no cinema. Mas, óbvio, aquele era um local de grande concentração pública, onde fervilhavam vozes e a egrégora não era a de silêncio. Somente no final da escola conheci um Box que vendia tapioca no Mercado Municipal de Maringá. Ali fiz boas amizades, apesar de breves, e tinha um lugar mais calmo para aliviar e organizar as idéias. Meu humor melhorou e minhas notas no curso também... Se eu tivesse adotado um pequeno pedaço de paz logo no início de minha demanda em Maringá, acredito que muitas coisas teriam sido diferentes. E diferentes para melhor.
Procure também seu pequeno pedaço de paz, caso ainda não o tenha. E um dia me chame pra contar a diferença que isto fez.  ;-)

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Por Deus, pela Pátria, por DeMolay # 04

Desde o fatídico dia que passei pelo Portal Meridiano, meu mundo se tornou outro. Assim como de muitos Irmãos que convivia em Capítulo. Alguns mudaram de estado, indo trabalhar em cidades onde as oportunidades eram melhores. Outros, por sua vez, se espalharam pelo Paraná, especialmente Curitiba, para se prepararem para concorridos vestibulares. Já eu, fui para o norte, morando um tempo em Maringá, e mais outros dois anos em Campo Mourão.
Esse afastamento não deixou de ser sofrido. Tão acostumado à convivência de Irmandade, essa desconstrução me tornou inevitavelmente mais solitário, e de certa forma, perdido. Tive o privilégio de conviver com vários DeMolays das cidades que gentilmente me acolheram, mas tive de amargar a sensação de que a “era” que vivi no Capítulo Eugênio Mancuello chegara ao fim. Agora eram outros DeMolays, uma nova geração que iria escrever sua própria história no Capítulo, e que eu, juntamente com todos os jovens que passaram por lá, nos tornamos apenas histórias, vultos, lembranças de atas...
Entretanto, no meio dessa pequena desolação, me permiti ser feliz de novo. Vez ou outra, encontro com os antigos companheiros de Templo. Destaco especialmente dois reencontros. O primeiro deles foi com meu xará Fábio Suenaga, vulgo “Japetos”. Cientista da Computação que hoje vive em São Paulo, numa carreira promissora. Nesses felizes “acasos” do destino, resolveu visitar Guarapuava nos mesmos dias que eu estava de férias. Marcamos um reencontro entre a maioria  dos DeMolays Seniores de nossa época, e nos embalamos num Happy Hour,  entre lembranças e sonhos futuros. Um encontro breve, mas que valeu cada minuto.

O segundo reencontro foi com meus Irmãos Lucas Zago e João Neto, ambos estudando em Curitiba. O primeiro no caminho para concluir o curso de direito, e o segundo, estudante pré-vestibular, futuro médico. Pela ocasião de minha transferência para São José dos Pinhais, nossa distância diminuiu, o que permitiu combinarmos uma saída como nos velhos tempos, embalada a muita pizza, refrigerante, pizza, reclamações, pizza de novo, e uma comemoração em especial: a aprovação do João Neto em Medicina. Conquista celebrada com... pizza. Mais um dia que valeu a pena. Tanto tempo longe, mas a conversa fluía como se estivéssemos convivendo diariamente. E de certa forma estávamos mesmo. Lá se foram um, dois, três anos, mas uma velha chama de Irmandade insiste em se manter viva, mesmo com distâncias aparentemente tão grandes. E hoje, neste ocaso de 2012, nossos caminhos divergem novamente. O futuro Dr. João Dias Neto em breve vai para o Rio de Janeiro, e meu companheiro Lucas “Bigode” Zago entra em férias e volta para Guarapuava. Mais uma vez meu caminho se torna solitário por aqui, mas com uma acalentadora certeza. Meus amigos estão por aí, distantes, mas sempre próximos em coração.
Viver estes momentos me mostra que o Paraná nem é tão grande assim. E provavelmente o Brasil também não. Geografia não vence certas amizades. Certas Irmandades.
Isto é mais uma coisa que devo agradecimentos a Frank Sherman Land.
Um Tio, um Irmão, o precursor de um sonho.  Que, a propósito, está quase chegando a seu primeiro centenário!

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Por Deus, pela Pátria, por DeMolay # 03



Dia oito de novembro, DeMolays do mundo inteiro reverenciam a memória de Frank Sherman Land, fundador da Ordem DeMolay. E eu, como Chevalier, cumpri meu compromisso de partilhar o pão, jantando com seis Irmãos pelos quais tenho muita estima e apreço.
É estranho se sentir um irmão mais velho, uma liderança adulta dentro da Ordem. Lembro-me tão claramente de minha Iniciação, quando ainda era pouco mais que uma criança, excessivamente agitada e curiosa. Era 19 de outubro de 2002... E lá se foram 10 anos, quando me deparei com o portal da Maioridade e o cruzei, até chegar nesse ponto, onde sou um misto de Irmão e Tio... O Rio da Vida correu caudaloso e continua sua jornada.
Já que não posso impedir o Rio de prosseguir, espero apenas que nesta nova fase, onde finalmente estou começando a me ver como um homem (no sentido de maturidade), eu possa desenvolver um caráter tão notório e íntegro quanto de Dad Frank, o que não é uma missão fácil, considerando que o presidente Harry Truman disse uma vez: “Frank gosta de mim apesar de todos os meus defeitos; e eu gosto dele porque ele não tem nenhum.”



E quem sabe um dia, encontrar a minha Nell...

sábado, 3 de novembro de 2012

Heavy Rain


E mais uma vez as coisas resolveram mudar radicalmente. Após quase dois anos em Campo Mourão, trabalhando no grupamento de bombeiros da cidade, aceitei uma proposta um tanto arriscada e realizei uma permuta para o grupamento de São José dos Pinhais.
E todos os dias que envolveram essa mudança de cidade tiveram uma atmosfera muito estranha. A começar pela insistente chuva, que perdurou desde a sexta-feira em que fui dispensado.  Tornou a viagem um desafio maior, mais interessante e divertido de se recordar.

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Um dia desses # 07


Lembrei-me recentemente de um causo muito sem noção que aconteceu há uma penca de anos. Mais especificamente em 2004, quando ocorreu a primeira edição do Festival de Artes da Rede Estudantil Paranaense, o vulgo FERA. Um projeto audacioso que reuniu colégios de todo o Estado para uma semana inteira de oficinas e apresentações artísticas. Na época, estava na metade do ensino médio e desenhava com mais devoção que hoje. Participei da etapa em Ponta Grossa e, no ano seguinte, em Castro. O evento era uma verdadeira loucura. Os colégios da cidade sede serviam como alojamentos para centenas de alunos e professores e as conseqüências disso eram mais do que óbvias. Estes dois FERA que participei – especialmente o sediado em Castro – estão entre as lembranças mais felizes que tenho da minha adolescência, pois foram minhas primeiras experiências de independência, além de me proporcionar algumas descobertas sobre a vida que eu nunca havia experimentado antes no meu mundo de livros, videogames e bicicletas.

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Tudo ficará bem...

Há dias em que o bombeiro sente que anda muito mais próximo ao anjo da morte do que as outras pessoas. O cartunista Fábio Coala – que já foi bombeiro – traduziu de maneira competente e sensível esse sentimento que perturba os combatentes, na tirinha abaixo:


E eu, me confrontei novamente com esses terrores num curto diálogo, que me martelou nesses últimos dias...

domingo, 23 de setembro de 2012

Uma criança e seus heróis #03


Terminando a série de personagens inspiradores em minha vida, deixei por último aquele que certamente mais me marcou. Um ex-ferreiro, que saiu da França, seu decadente lar, para peregrinar até Jerusalém, e descobrir um mundo totalmente novo em meio à Terceira Cruzada. Este cidadão chamava-se...

 Balian de Ibelin.

domingo, 2 de setembro de 2012

Uma criança e seus heróis #02


Durante vários anos (e até hoje, pra ser sincero), tive como hábito jogar os excelentes jogos da franquia Castlevania. Esta série, produzida pela empresa japonesa Konami, teve games desde a época do Nintendo 8 bits até os dias atuais, no poderoso PlayStation 3. 
A história gira em torno da família Belmont e sua luta contra o Conde Drácula, que a cada cem anos ressuscita para trazer o terror ao mundo. O Belmont da vez, armado com um chicote sagrado, o Vampire Killer, deve adentrar o castelo do vampiro e deter suas tropas demoníacas.
Castlevania tornou-se notório pela grande quantia de jogos, sua qualidade, e pela trilha sonora fantástica, com certeza entre as melhores já compostas para jogos eletrônicos. Mas, ainda mais, pelos personagens icônicos que lançou, como o filho de Drácula, chamado Alucard; Richter Belmont, considerado o mais poderoso herdeiro da família de caçadores, entre outros, bem conhecidos entre os entusiastas de videogames.
Mas o herói que vou ressaltar é especial por ser o primeiro. Em 2002, foi lançado para a plataforma PlayStation 2 o game Castlevania, Lament of Innocence. Neste, é contada a história do primeiro Belmont caçador de vampiros, um romeno que viveu no século XI. E se chamava...

Leon Belmont

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Uma criança e seus heróis #01


Qualquer documentário sobre adolescentes – do bom ao besta – ressalta a necessidade do dito cujo se identificar num grupo e construir sua personalidade em cima de certos ídolos, projeções daquilo que ele deseja ser e que por isso mesmo admira e imita. Comigo não foi exceção.
Tive muitos modelos, reais e imaginários, que adotei desde os tempos de meninice até hoje, quando me confronto com o – nem sempre legal – fato de ser dono do meu próprio nariz. Hoje, especificamente, vou dedicar uma homenagem aos meus heróis fictícios. Um post para cada um deles. Obviamente, tive muitos outros modelos, mas os que eu mencionarei tiveram especial participação em muita coisa que tomei para mim como norte.
Que comece, então, as homenagens de uma criança aos seus heróis...

Frog
 (do game Chrono Trigger, da Square)

quinta-feira, 26 de julho de 2012

Véronique

- Moto? Você ficou louco? Você vai morrer!
- Compra um carro! Como você vai levar a mulherada pra sair em dia de chuva?
- Carro te dá muito mais status. Larga mão de querer moto...
- Moto Custom? Isso é moto de velho! Mulher gosta de moto esportiva!
- Virago? Compra uma moto menor, tipo uma CG, já que você é iniciante. Ela é muito grande pra você!
- Virago? Compra logo uma Shadow, a Virago é muito fraquinha e não tem mercado!
- Blá blá blá...
E depois de ouvir muitos conselhos positivos, conversar com muitos motociclistas, e planejar os gastos, comprei minha tão sonhada motoca. Uma Yamaha Virago 250cc, 1997. Uma peça de museu linda, de ronco musical e cromados brilhantes, apesar das marcas de ferrugem já visíveis em alguns pontos disfarçados.

sábado, 14 de julho de 2012

Procura-se uma ideia


Desde meu último post, há quase um mês, muita coisa me passou pela cabeça. Pensei que seria fácil escrever o próximo texto para o blog mas, misteriosamente, meus dedos travaram no teclado...
O engraçado é que foi um período onde me fervilharam ideias e sentimentos. Todos antagônicos, confusos e barulhentos. Essas ideias envolveram minhas últimas viagens de moto, uma promessa cumprida, duas abdicações, um evento esse mês que me marcará pelo resto da vida e mais metas insanas que tracei para os próximos anos.
E mesmo com tanta coisa que poderia escrever, travei... por excesso. Por dúvida sobre o que expor e o que manter na sombra...
É por isso que deixo apenas um pedido de desculpas e compreensão para o eventual leitor. Aos poucos, minha mente está se alinhando e enfim poderei voltar à ativa.
Para encerrar, caso tenha paciência, há alguns anos escrevi sobre esta falta de criatividade. É a primeira vez que coloco uma poesia minha aqui. Não vou me acostumar com isso...

SEM IDEIA

(Dee)

Palavras breves fenecem na noite e na chuva
Arte distante, sempre em fuga
Idéias desconexas procuram inspiração
Páginas em branco sem comoção
As horas fogem sem resultado
No desejo de escrever sem motivo dado

Tantos já registraram minha falta de ensejo
Embalados em sua própria e inebriante paixão
Não há nada de novo se o que desejo
Já foi dito em exaustão
Excessos de “eu te amo” já me saturaram
Que se manifestem apenas os que já amaram

Começo então, uma estrofe de guerra
De glória e tristeza no urro das feras
Novamente me atinge o marasmo
Ferida inconsciente de ataque e espasmo
Perda de sono diante do dever
Sem preocupação, se posso simplesmente viver

Passo por música
Escrevo sobre cores
Relembro a infância
Antigos amores
Estranho menestrel
Passo tudo no papel
Destruição, delírio, sonho
Perpétuo, desejo, escarcéu

Por tudo o que insisto
Insatisfeito e mal-visto
Maldição, já foi criado
Vendo tantos rabiscos marcados
.
.
.
Por fim, ignoro tudo o que fiz
Compreendo que criei poesia
Mesmo quando não quis

De volta à panaceia...
Novamente... sem ideia...

domingo, 17 de junho de 2012

A maldição de ser o que se é


Uma das coisas mais torturantes para o espírito humano, acredito eu, é o conflito entre o ser e o querer...

Com o advento das redes sociais pela internet, tornou-se muito mais fácil expor para os outros uma imagem manipulada de nós mesmos. E muito comum também a disseminação de uma filosofia que eu não considero muito correta: a aceitação incondicional de si mesmo. São dezenas de mensagens do tipo: me aceite do meu jeito; sou assim mesmo e ninguém me muda.
Sinceramente, estagnar é coisa de estátuas que vão enferrujando e sucumbindo paulatinamente ao tempo. Meu amor próprio me diz que eu tenho que exterminar o que me impede de me tornar um homem melhor e tornar hábito as ações nobres. Evolução. Isso pra mim deve ser um lema. Evolução física, moral e intelectual.
Fisicamente, hoje faço muito mais exercícios que antigamente, hábito adquirido na marra após meu ingresso no Corpo de Bombeiros e que hoje se tornou um prazer. Mesmo com a recente compra da minha moto, estabeleci que continuaria andando com minha amada bicicleta na cidade e que trilharei os passos para me tornar um triatleta. Meu objetivo não é ganhar músculos com suplementos esquisitos. É ser mais forte, mais rápido, mais habilidoso e mais resistente do que sou hoje. Para que isso me ajude no meu emprego e na minha vida, especialmente no futuro.
Moralmente, tenho talvez meu desafio mais bravo. O mundo dos jovens adultos é meio estranho. Um tanto idealista, uma parcela hedonista... Considero-me muito explosivo e inquieto. A meta é se tornar mais calmo e constante, mais gentil e abnegado. Reclamar menos (a propósito, eliminar a reclamações da minha vida, conforme um livro inspirador que um dia comentarei no blog) e controlar meu vocabulário, que de vez em quando me torna alguém muito desagradável. E em paralelo à evolução moral, tenho minha fé, o aspecto espiritual, que eu quero lapidar me tornando mais confiante em algo superior. E principalmente, exercitar a tolerância com o oceano de pessoas que seguem outro credo, e principalmente, aos que não seguem fé alguma e atacam os que buscam uma religião. Enfim, respeitar e respirar fundo quando as opiniões acerca da vida não forem iguais as minhas.
E por fim, evolução intelectual. Ler, estudar, opinar, questionar. Tentar entender uma parcela do que ocorre no mundo. Não desprezar nenhum conhecimento. Quando fazia minha graduação em Física, era muito comum entre os acadêmicos um desprezo com as áreas humanas, o que considero até hoje um erro. Penso que o verdadeiro intelectual deve ser um Universalista, prezar por todas as áreas do conhecimento e estudá-las com interesse. No meu caso, quero terminar meu último ano de Física, e continuar um entusiasta de psicologia e literatura. E, claro, escrever com mais constância, para aprender a organizar minhas idéias no papel e limar aos poucos os erros de língua portuguesa que cometo.
Enfim, como diria um de meus aforismos favoritos no simples – mas confortante – Minutos de Sabedoria: “o mundo não é um parque de diversões, mas um ambiente de trabalho”. Mudar é necessário e eu quero fazer isso. Sempre para melhor. O caminho é complicado e há dias muito desanimadores, quando desvio os olhos do horizonte e sou cercado pela escuridão

Uma batalha interna, discreta, mas intensa. Uma busca pelo fim da maldição de ser o que se é...

PS: Aos que se interessarem em conhecer e lutar contra sua própria escuridão, pesquisem: Carl Jung Arquétipo Sombra.

terça-feira, 12 de junho de 2012

Antes que o outono comece...



Sentimentos são coisas inevitáveis e muito estranhas. Por mais que meu escudo de frieza insista nesse assunto, vez ou outra, sou fisgado por uma nova poesia de corações e sombra em minha cabeça.
Existe sim uma carência latente em cada pessoa. Nunca acreditei na conversa de alguns que alegam não sentir necessidade alguma de compromisso ou carinho. Em minha opinião, esse alguém guarda um remorso por não ter achado a pessoa certa. Não uma alma gêmea, um predestinado, apenas outra pessoa, também carente, que disponha de um tanto de equilíbrio emocional, alguns gostos parecidos, boa vontade, paciência e uma aparência agradável para o companheiro.
Sonhos e projeções pueris também fazem parte desse cenário. É o que torna a coisa açucarada e encantadora. O excesso provavelmente virá a ser prejudicial (e muito embaraçoso para amigos que se tornam testemunhas forçadas), mas a dose de poesia num romance sempre é bem vinda.
E é nesses sonhos e projeções, que colecionei dentre os vários anos de tormentosa adolescência até hoje, que guardo, até mesmo com carinho, todos os meus fracassos e devaneios...
(Caso você não seja diabético e tenha coragem e estômago suficientes para ler algo sem sentido, clique em Continuando, logo abaixo. Caso contrário, já fico agradecido da visita. O que tinha para o dia 12 de junho fica nisso.)


quinta-feira, 7 de junho de 2012

Um dia desses... # 06


Nunca acreditei nesse papo de que ter uma moto (ou outro veículo automotor qualquer) fosse a mesma coisa que criar um filho. Até o dia que comprei minha moto e concluí que é verdade mesmo... pelo menos financeiramente e na questão de cuidados, que tornam-se mais acentuados e frequentes do que os que eu sempre dispensei para minha bicicleta, que continua minha fiel companheira na cidade.
Mas o fato que quero narrar se deu justamente quando, após um dia inteiro procurando pela cidade (de bicicleta), achei uma determinada peça para moto num ferro velho. Era final de tarde, mas durante o dia todo houve uma recusa em amanhecer. Não me lembro de ter presenciado dias tão cinzentos em Campo Mourão, mas sim, apenas na minha saudosa e soturna Guarapuava. Com a noite se aproximando e feliz por ter encontrado a peça, voltei para a pensão pela rua da Paróquia Nossa Senhora Aparecida, na vila Urupês. Faltando algumas quadras para meu destino, me deparei com uma destas pequenas cenas de cotidiano que tornam meus dias simples mais felizes. Era noite de feira livre.

A cada dia da semana a feira ocorre em determinado bairro de Campo Mourão. Logo que me mudei para cá e ainda morava no Montes Claros, lembro-me que era quase um hábito sagrado visitar a feira as sextas, vendo a movimentação na praça e enchendo a barriga de pastel, bolo e caldo de cana. Entretanto, quando mudei para o centro, esse hábito se perdeu nas cinzas, substituído naturalmente pelos hábitos de uma nova rotina.
Mas eis que, naquela terça monocromática e fria, lá estava a feira livre. Me recepcionando. Não resisti. Desmontei da bike e novamente fascinado, olhei as barraquinhas com frutas, legumes e toda a sorte de lanches e quitutes. Melhor que isso era observar como as pessoas percorriam o local numa paz que não estou acostumado na cidade... Apesar de pequena, Campo Mourão não é o perfil de uma cidade pacata. Quem duvida disso, pergunte para algum policial militar ou bombeiro. São muito comuns as mortes por armas de fogo e armas de combustível, motor e rodas... Mas ali, naquelas duas quadras com iluminação laranja, as pessoas conversavam despreocupadas e o clima era de uma pequena vila. Durante meu trajeto, um menino de aproximadamente seis anos olhou fascinado para minha bicicleta e disse: “olha pai, uma bicicleta com luzes!”. Sorri para ele. E logo após comer um pastel, daqueles que misteriosamente tem “gosto de feira”, o menino novamente me abordou: “ei moço, essa caneta é sua?”, referindo-se a uma caneta encontrada no chão, ali perto. O objeto não me pertencia, mas minha identificação com a criança foi quase imediata. Educadamente, o menino se retirou e voltou para a companhia do pai, que pelo discreto sorriso, parecia orgulhoso de criar um rapaz educado já em tenra idade.
Quanto a mim, segui destino logo após, com a noção de que criar um filho e manter uma moto são duas coisas bem onerosas e ocupantes. Mas o prazer de se fazer isso é evidente. O da moto é sentir o vento no rosto na imensidão da estrada em frente. E o do filho, vi hoje, ao olhar o rosto daquele pai.


É por isso que eu gosto de feira.


quinta-feira, 24 de maio de 2012

Um dia desses... # 05

Eu disse certa vez, para meu amigos, que um dia seria herói...


Um sonho infantil e bobo, alimentado dia após dia, mas ofuscado pela óbvia rotina do trabalho, do dever, e da seriedade da vida adulta...
Entretanto, num dia qualquer, num parágrafo curto, ali no meio de um jornal, uma breve menção me faz sorrir. Uma situação que beira quase uma história infantil. Mas que acontece de vez em quando. E me faz ver que “ser herói” é um sonho que vale a pena sonhar. E viver!


Por fim, um clipe da música Hero, com cenas do filme Cruzada (Kingdom of Heaven), que apesar de tratar de uma época tão longínqua, foi minha inspiração nos dias que minha casa deixou de ser Guarapuava - minha simbólica França - para se tornar Maringá, minha simbólica Jerusalém dos Peregrinos...

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Bombeirices # 02


Em poucos segundos, as glândulas supra-renais liberam uma quantidade considerável de adrenalina. O suficiente para o sangue se concentrar nos sistemas nervoso e muscular, dilatar as pupilas, aumentar a freqüência respiratória e cardíaca. É a reação imediata em situações de perigo e emergência. E a mesma que me faz levantar no meio da madrugada quase grudado ao teto.
Nos primeiros dias de rampa, o efeito do sinal de emergência era devastador. Numa certa madrugada, quando o alarme tocou longamente – por um grave acidente de rodovia – eu estava com a pulsação tão forte que sentia o sangue passando pela carotídea sem nem ao menos encostar os dedos no pescoço. Pensei (seriamente) que teria um infarto.
Não é unânime em todos os quartéis de bombeiros, mas onde trabalho, os sinais de aviso funcionam da seguinte forma: acidentes ou emergências que necessitam da ambulância, toca-se uma vez a cigarra (que produz um som parecido com algumas estridentes campainhas de portão). Geralmente, quanto mais grave, maior o tempo que o telefonista segura o botão da cigarra. Dois toques seguidos da cigarra, resgate com o caminhão e desencarceramentos (esse sinal é mais raro de ser usado). E por fim, quando se trata de incêndio, o telefonista toca a “Catarina”, a tradicional sirene, que produz um som que parece um grito saído do próprio inferno!!!

O fato é que, passados os meses, esses alarmes tornam-se corriqueiros, padrões. Um som enraizado na cabeça dos bombeiros. E é aí que começam os problemas...
Ao lado da pensão onde eu moro, o vizinho instalou uma campainha que produz um som idêntico a cigarra do quartel. De vez em quando estou descansando no meu quartinho quando, de repente, o som da campainha ecoa. Apesar de distante, é suficiente para meu corpo liberar imediatamente uma descarga de adrenalina. É automático, independente da minha vontade. Obviamente eu não pulo da cama feito um maluco procurando pela ambulância, mas imediatamente o sono vai embora e meu coração levemente acelera. Leva alguns minutos para eu voltar ao normal... E assim ocorre sempre que um som semelhante chega aos meus ouvidos (inclusive a campainha da casa dos meus pais...).
Outro hábito condicionado ocorre com o telefone. Em Campo Mourão, os bombeiros costumam revezar funções: saem no caminhão, atendem na ambulância e por vezes ficam na central telefônica. Na central recebemos milhares (sim, é mais de mil mesmo) ligações diárias, sendo a esmagadora maioria trotes ou enganos. Mas o protocolo mantém-se inalterado. Telefone tocou: “Bombeiros emergência!”. Essa frase é repetida tantas e tantas vezes por dia, que certa vez, de folga, na casa dos meus pais, o telefone tocou e ao atendê-lo, fiquei quase três segundos em silêncio, pensando no que falaria, pois a única coisa que me vinha à cabeça era: “bombeiros, emergência”. Por fim, após pensar um pouco, respondi com o tradicional “alô”.
Se não me engano, foi Ivan Pavlov, um proeminente médico, que introduziu os conceitos de comportamento condicionado (ele era médico, mas se tornou notório pelas pesquisas na área de psicologia comportamental...).
E é nos pequenos hábitos da vida castrense que algumas coisas vão grudando na nossa mente, confirmando teorias psicológicas e gerando alguns pequenos transtornos, que podem ser vistos – por que não – como situações engraçadas, dignas do “Bombeirices”...


quinta-feira, 12 de abril de 2012

Coração Peregrino


Das três cidades que me acolheram, guardo como símbolo de suas boas vindas o baluarte de fé cujo simples relance sempre me renovou num ideal tão difícil de manter...

Respectivamente as Catedrais de Guarapuava, Campo Mourão e Maringá.

Lá se vão quase dois anos desde que abandonei minha zona de conforto em busca de uma promessa de aventura, redenção e emprego estável... Nesse meio tempo, me tornei um visitante da minha própria casa, e no decorrer dos meses, a terrível saudade inicial que me fazia sonhar com meu passado em Guarapuava aos poucos foi sumindo em favor da minha adaptação à vida independente.
Por um lado, foi gratificante. Dizem que é saindo da zona de conforto que a vida começa, e não poderia traduzir isso de melhor maneira  do que indo morar durante meio ano num quartel em Maringá e ver e viver coisas que me enervaram, mostrando o quanto meu filtro psicológico estava fraco (não que tenha melhorado muito, mas estou constantemente tomando providências quanto a isso).
Após Maringá, já formado soldado, me juntei as fileiras de Campo Mourão. Mais uma vez um lugar que me afeiçoei ficou para trás, em promessa de um novo lar. E Campo Mourão é atualmente minha casa.
Entretanto, essas mudanças em tempo relativamente curto surtiram um efeito desconfortável... A cada dia, vejo que menos tenho um lar, um lugar só meu. Mesmo após um ano em Campo Mourão, ainda me sinto um estranho, sendo minha única conexão com meu antigo mundo minha tão amada Ordem DeMolay, com meus Irmãos, Tios e Tias mourãoenses. 
Maringá foi (e é) um lugar maravilhoso, de lembranças ferozes e doces, entretanto é uma cidade que hoje valorizo apenas a visita, não é um lugar que atualmente desejo morar. E quanto a Guarapuava... meu coração ainda bate forte por minha terra de vento, frio e nebulosos dias de inverno, mas cada vez que vou lá, sinto que sou apenas uma visita, que já cortei de certo modo meu cordão umbilical, apesar da saudade...
E todos esses sentimentos se juntam ao fato de que constantemente viajo pelo meu Estado, em eventos, visitas, concursos ou simples aventura... Uma mochila nas costas, uma plaquinha e um destino. E um pequeno mundo cinza que me faz crer cada vez mais que minha casa já não é mais uma cidade, mas um Estado inteiro...


Nota sem noção: muita gente fica impressionada (ou consternada) quando conto que todos os pertences que tenho para viver em Campo Mourão cabem numa mochila de 80 litros (com exceção da bicicleta, rsrs). E que até hoje nunca mais tive cobertor, e quando faz frio, apenas me cubro com o saco de dormir.  Viver sozinho também me tornou criteriosamente minimalista...

segunda-feira, 26 de março de 2012

Pequena História Vermelha


A despeito de uma vida divertida e aventureira, a atividade de bombeiro também reserva surpresas bem desagradáveis para seus combatentes.
Existe um simbolismo imponente quando uma viatura cruza as ruas com todas as sirenes ligadas. É um aviso de que a segurança pública está em ação, mas também o triste sinal de que alguém está perdendo. Seja um bem material ou a própria vida.
A cada dia que passa uma nova cicatriz protege o coração dos bombeiros que testemunham a dor de desconhecidos. Não se trata de indiferença ou frieza. É um escudo.
Tenho quase dois anos de caserna e vi esperanças e vidas se esgotando. Vi gente morta. Idosos, caras da minha idade e certa vez uma criança... Acidentados de trânsito, cardíacos, doentes terminais e até mesmo um carbonizado. Tem também gente que perdeu quase tudo no fogo (lembrando que o que incendeia geralmente é a simples casa de madeira em decorrência de uma vela, e não o imponente sobrado de alvenaria...).


Menos de dois anos... Convivo com colegas de caserna com 7, 15, 25, 32 anos de serviço. E que devem guardar em memórias profundas ocorrências que eu nem imagino.
Por isso, quando no meio da madrugada toca a cigarra de alerta ou ainda a infernal sirene, um arrepio de leve percorre o combatente. Serviço é serviço, mas nos segundos de correria que separam alojamento da rampa de viaturas, muita coisa deve passar pela cabeça dos notívagos militares do Corpo de Bombeiros. Recrutas e veteranos, cada um escrevendo sua pequena história vermelha...


sexta-feira, 23 de março de 2012

Escuridão Laranja


Uma coisa que sinto falta de Guarapuava é a constante atmosfera cinza que povoa meus tão amados dias de outono. O céu nubla, começa a chuva... E esse tempo desbotado perdura por dias, semanas até... Aqui em Campo Mourão isso não acontece. Não lembro nem mesmo a última vez que choveu por aqui, mas já fazia um bom tempo. Até que, de repente, numa quinta de manhã, o clarão vespertino não veio. Somente a chuva. E um friozinho bem leve. A noite caiu, e tomado por uma nostalgia terrível, peguei minha bicicleta e saí pedalar pelas ruas praticamente vazias. A cerração recolhe as pessoas em suas casas, espanta motociclistas, diminui o tráfego de carros. Nesta hora, uma bicicleta solitária cruza o centro mourãoense, sob o fascínio dos postes de vapor de sódio, que emitem sua característica cor alaranjada e emitem fachos visíveis pela névoa que toma conta de tudo.
Tudo isso me lembra um passado que já foi meu. Uma faculdade, um sonho, uma revolta...  Uma outra vida que tive há anos atrás e abandonei. E cuja redenção hoje é apenas minha promessa de lapidar um dia melhor, um homem melhor,...
E em comum, apenas esses dias tão estranhos, quando o céu noturno ganha uma coloração dessas.

Tempos de escuridão laranja...

sábado, 25 de fevereiro de 2012

Kiv" . . . . . . . . # 02

“Minerva e as Musas” do pintor francês Jacques Stella (1596 – 1657)




Pouco antes de Kiv adormecer, um conto surgiu de suas mãos, intitulado: As Nove Musas.

Quando fui seu único amigo, me marcou aquela noite onde aquele telefone ficou ligado por pelo menos uma hora. Ela reencontrou os amigos e nunca mais me viu.

A segunda era tão minha irmã que um simples pensamento nela me censurava, me lancinava. Assim deixei e durante os anos vi todos os seus amores, dissabores, angústias e conquistas. Sempre paralelo.

A terceira me ajudou a criar o hábito de escrever algo nunca entregue. Durante aquele maldito festival a chamei e as palavras faladas travaram de novo. Eu tenho algum problema.

A quarta me foi passageiro e sequencial. Minha tão querida colega de faculdade que naqueles primeiros meses de uma nova vida se tornou a única companhia.  Mas no meio do caminho, foi chamada para outro destino. E com isso sumiu para sempre do meu alcance.

A quinta era um antigo enigma de escola. A menina tão meiga e solitária, doentia e delicada, daquelas que se tem uma vontade compulsiva de proteger... O tempo nos fez novamente amigos, até o dia que ela não precisou mais de mim como seu protetor. E eu desapareci. Como sempre faço.

A sexta enveredou um caminho que me entristeceu. E eu achei que poderia salvá-la. Mas aos poucos eu também fui descartado de sua antiga vida e vi um abismo. Ela tinha esvaziado meu coração, não era mais minha musa.

Teve Melpomene, uma das minhas compulsões mais doentias. Apesar dessa afirmação assustadora, sobre ela não me vinham desejos lascivos. Apenas uma fascinação inocente e estúpida. No máximo eu devo ter-lhe dito bom dia umas três vezes, e não sei por que, eu tremia na sua presença. Soube apenas seu nome, nunca a conheci, e nunca conhecerei.

A oitava foi mais uma vez uma amizade que me completava em meu mundinho cinza. Alguém que até hoje personifica o que eu procurei sempre. Mas sua retidão nos deveres e outros motivos – acho que uma simples falta de sincronia – nos separaram. De todas, é aquela cuja  simples palavra ainda me é uma recompensa...

A ultima lhe vi crescer desde sua infância, silenciosamente, mas sem nunca lhe prestar atenção, até que seus olhos juvenis e uma história oculta conduziram meu coração para mais uma armadilha. Dividimos um local sagrado, uma batalha, uma filosofia. Mas nada adiantou. Seu mundo se tornou outro, e o meu também. Outra vez tentei, anos depois, após fugir terrivelmente dela com formação reativa, apenas para repetir o mesmo erro...

Só tive dois relacionamentos. Mas em ambas as vezes não eram pessoas que eu nutria o forte sentimento que me guiava, eram apenas um apelo a minha carência afetiva, o que inevitavelmente me conduziu ao fim. Um egoísmo que me corrói até hoje e me fez fugir de pessoas que gostavam de mim, mas que não era capaz de retribuir...

Sempre quis um relacionamento inocente. E caí na minha própria armadilha. Hoje, já homem,  procuro por uma gota escassa num mundo que menosprezou seus relacionamentos, tornando a concupiscência a regra. 

Será que valeu a pena sonhar tanto? Não tenho dados suficientes para a resposta. É por isso que continuo.

Um monge aguardando sua raposa.
Ilustração de Yoshitaka Amano para o livro "Sandman The Dream Hunters" de Neil Gaiman.
Leitura recomendadíssima!



segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Filosofia da Estrada # 03

E por fim, depois de muito investimento e planejamento (e enrolação), finalmente cumpri minha primeira meta de 2012: pedalar de Campo Mourão até Maringá, e voltar no dia seguinte. Uma aventura simples, saudável e gratificante.
Na verdade, os 93 km que separam ambas as cidades não são uma grande distância. Não há nenhum mérito extraordinário nisso. Ciclistas profissionais treinam rotineiramente distâncias muito maiores que esta e em tempos muito menores do que eu fiz e cicloturistas cruzam o Brasil (e o mundo até) montados em suas bikes. O mérito é apenas um orgulho pessoal. Um desafio só meu que cumpri e que me deixou muito satisfeito. Talvez nem tanto pelo destino, mas pela viagem, que compartilharei agora...

domingo, 29 de janeiro de 2012

Filosofia da Estrada # 02

Ao final de cada ano tenho o hábito de escrever metas bem definidas para serem cumpridas durante os meses vindouros, e fico feliz, pois consigo cumprir grande parte delas com êxito. Algumas envolvem coisas mais comuns, como tirar a carteira de motorista (meta cumprida ano passado) e comprar um violão; outras são mais ousadas, como participar de um triathlon e escrever um livro em um mês; já outras são completamente piradas, tipo ordenhar uma vaca e voar de asa delta. Na categoria das metas piradas, cismei que esse ano iria praticar cicloturismo, que é simplesmente viajar de bicicleta. Meu primeiro destino será algo simples, que é ir até Maringá, num trajeto de cerca de 93 km e voltar no dia seguinte. Quero cumprir essa meta já em fevereiro e não tenho poupado esforços (e despesas) no planejamento minucioso da viagem, a fim de evitar problemas e imprevistos.
O interessante dessa história foi o ocorrido há dois dias atrás, quando um bombeiro de Santa Catarina chegou no nosso quartel (em Campo Mourão) de bicicleta. Nossa identificação foi quase imediata. Paulo Cesar Gaiovis (nem sei se escreve assim, só lembro que ele comentou que o nome era pra ser Gaiovics ou Gaioviks, mas erraram no cartório... acho que eu também erraria...) simplesmente saiu de Terra Nova do Norte – MT, e seguia destino até Videira – SC, num trajeto que até então já tinha somado mais de 2000 km. O que senti foi um misto de admiração e vergonha, pois ele já viajava há dias, carregando barraca e demais utensílios num bagageiro feito com uma tábua enquanto eu fazia um verdadeiro planejamento de Sistema de Comando de Incidentes para chegar a uma cidade vizinha...

Independente disso, desejo sorte e proteção pra esse bombeiro maluco. A jornada dele só serviu pra jogar mais gasolina na minha fogueira de viajante ciclista, e espero que Maringá seja apenas o início de outras jornadas, divertidas e silenciosas, com o vento no rosto e uma longa estrada adiante. E que sirva de incentivo para saber que nós somos muito mais fortes e capazes do que imaginamos. Ora pois, o que são 2000 km de bicicleta?!
Um veículo limpo, saudável e barato (e nas cidades, até mesmo mais ágil que o turbilhão de carros engarrafados...).
É por isso que eu digo e repito: pare de se fingir de morto e vá pedalar!!