sexta-feira, 23 de março de 2012

Escuridão Laranja


Uma coisa que sinto falta de Guarapuava é a constante atmosfera cinza que povoa meus tão amados dias de outono. O céu nubla, começa a chuva... E esse tempo desbotado perdura por dias, semanas até... Aqui em Campo Mourão isso não acontece. Não lembro nem mesmo a última vez que choveu por aqui, mas já fazia um bom tempo. Até que, de repente, numa quinta de manhã, o clarão vespertino não veio. Somente a chuva. E um friozinho bem leve. A noite caiu, e tomado por uma nostalgia terrível, peguei minha bicicleta e saí pedalar pelas ruas praticamente vazias. A cerração recolhe as pessoas em suas casas, espanta motociclistas, diminui o tráfego de carros. Nesta hora, uma bicicleta solitária cruza o centro mourãoense, sob o fascínio dos postes de vapor de sódio, que emitem sua característica cor alaranjada e emitem fachos visíveis pela névoa que toma conta de tudo.
Tudo isso me lembra um passado que já foi meu. Uma faculdade, um sonho, uma revolta...  Uma outra vida que tive há anos atrás e abandonei. E cuja redenção hoje é apenas minha promessa de lapidar um dia melhor, um homem melhor,...
E em comum, apenas esses dias tão estranhos, quando o céu noturno ganha uma coloração dessas.

Tempos de escuridão laranja...

Um comentário:

Otavio Baroni disse...

É impressionante como as vidas giram e as mudanças sempre vem, gostando ou não... É bom lembrar daquele tempo, toda vez que o vento do norte do Paraná, sempre quente e com cheiro de terra vermelha traz um resquício frio de lembrança dos primeiros invernos de minha vida. É inevitável vir a lembrança das cálidas e geladas madrugadas,madrugadas essas que eu passava acordado, olhando a luz da rua lá fora exatamente desse jeito que tu descreveu, e fazendo planos para mim, para o mundo, conjecturando coisas mil, ou o que eu faria nos próximos dias...Queira ou não o inverno sempre me trará paz, nostalgia e Guarapuava, aquela terra onde vim ao mundo, e onde vivi os anos de maior sossego, mesmo em meio a tanta ignorância e a rostos marcados, e mesmo eu me recusando a permanecer lá, estagnado como uma árvore ressequida... Muito bom meu irmão!