terça-feira, 24 de setembro de 2013

Os sorrisos da noite branca

Neste domingo de tempestade, enfim meu querido lar passou pelo equinócio de primavera. E ficou para trás o primeiro inverno que passei em Guarapuava depois de regressar para trabalhar e morar aqui.
Foi interessante, apesar de sofrido, se readequar ao frio intenso que dominou dezenas de dias – secos e chuvosos – tendo como companheira minha inseparável bicicleta, que me mantinha aquecido no constante ritmo da pedalada.
Vou me lembrar do meu primeiro Cross Duathlon, onde corri e pedalei numa temperatura abaixo dos 7º C, atravessando um rio, me sujando de barro e conquistando uma colocação que, apesar de mediana, foi muito além do que imaginava que meu corpo seria capaz de conseguir.


Vou lembrar também da noite de 22 de julho, quando após um dia horrível, vi neve pela primeira vez na vida e fiz parte de uma cidade que voltou a ser criança e demonstrou alegria e gentileza como nunca antes tinha testemunhado. Na manhã seguinte, fui para o trabalho correndo, escorregando nas grossas camadas de gelo nas calçadas, sorrindo como nunca, com o sabor ainda vívido da pequena noite branca, que tornou minha segunda-feira menos triste.

E vou lembrar também de uma pequena passeada de moto, um abraço apertado e um passeio que muito me lembrou alguns filmes que já critiquei. Foi numa feira gigante que um casal sorriu, brincou num parque, atirou numa barraquinha de espingardas, comeu alfajor e falou sobre vida, futuro e tudo aquilo que de tanto dependemos para sonhar e continuar existindo. Terminou em dois beijos e um “até então”. Kiv deu sinais de querer novamente despertar, com seus temores e esperanças. Mas Kiv continuou nas sombras, tangente e adormecido...
Agora é início de primavera. As flores da árvore em frente a minha casa pesaram a ponto de arquear seus galhos e já se encheram com o zunido das abelhas e um cheiro adocicado de manhã campestre. E do inverno, sobreviverão duas coisas...
Uma lembrança doce e acalentadora e que, apesar de tão breve, me fez mais humano, talvez. Uma memória com gosto de Cappuccino e neve.

E a outra é uma música. Que recebi num fim de tarde tão gelado, junto com um desejo de boa noite. Um romance que não perdurou, mas cuja trilha virou minha lembrança deste inverno de crônicas brancas...