“Minerva e as Musas” do pintor francês Jacques Stella (1596 – 1657)
Pouco antes de Kiv adormecer, um conto surgiu de suas mãos, intitulado: As Nove Musas.
Quando fui seu único amigo, me marcou aquela noite onde aquele telefone ficou ligado por pelo menos uma hora. Ela reencontrou os amigos e nunca mais me viu.
A segunda era tão minha irmã que um simples pensamento nela me censurava, me lancinava. Assim deixei e durante os anos vi todos os seus amores, dissabores, angústias e conquistas. Sempre paralelo.
A terceira me ajudou a criar o hábito de escrever algo nunca entregue. Durante aquele maldito festival a chamei e as palavras faladas travaram de novo. Eu tenho algum problema.
A quarta me foi passageiro e sequencial. Minha tão querida colega de faculdade que naqueles primeiros meses de uma nova vida se tornou a única companhia. Mas no meio do caminho, foi chamada para outro destino. E com isso sumiu para sempre do meu alcance.
A quinta era um antigo enigma de escola. A menina tão meiga e solitária, doentia e delicada, daquelas que se tem uma vontade compulsiva de proteger... O tempo nos fez novamente amigos, até o dia que ela não precisou mais de mim como seu protetor. E eu desapareci. Como sempre faço.
A sexta enveredou um caminho que me entristeceu. E eu achei que poderia salvá-la. Mas aos poucos eu também fui descartado de sua antiga vida e vi um abismo. Ela tinha esvaziado meu coração, não era mais minha musa.
Teve Melpomene, uma das minhas compulsões mais doentias. Apesar dessa afirmação assustadora, sobre ela não me vinham desejos lascivos. Apenas uma fascinação inocente e estúpida. No máximo eu devo ter-lhe dito bom dia umas três vezes, e não sei por que, eu tremia na sua presença. Soube apenas seu nome, nunca a conheci, e nunca conhecerei.
A oitava foi mais uma vez uma amizade que me completava em meu mundinho cinza. Alguém que até hoje personifica o que eu procurei sempre. Mas sua retidão nos deveres e outros motivos – acho que uma simples falta de sincronia – nos separaram. De todas, é aquela cuja simples palavra ainda me é uma recompensa...
A ultima lhe vi crescer desde sua infância, silenciosamente, mas sem nunca lhe prestar atenção, até que seus olhos juvenis e uma história oculta conduziram meu coração para mais uma armadilha. Dividimos um local sagrado, uma batalha, uma filosofia. Mas nada adiantou. Seu mundo se tornou outro, e o meu também. Outra vez tentei, anos depois, após fugir terrivelmente dela com formação reativa, apenas para repetir o mesmo erro...
Só tive dois relacionamentos. Mas em ambas as vezes não eram pessoas que eu nutria o forte sentimento que me guiava, eram apenas um apelo a minha carência afetiva, o que inevitavelmente me conduziu ao fim. Um egoísmo que me corrói até hoje e me fez fugir de pessoas que gostavam de mim, mas que não era capaz de retribuir...
Sempre quis um relacionamento inocente. E caí na minha própria armadilha. Hoje, já homem, procuro por uma gota escassa num mundo que menosprezou seus relacionamentos, tornando a concupiscência a regra.
Será que valeu a pena sonhar tanto? Não tenho dados suficientes para a resposta. É por isso que continuo.
Um monge aguardando sua raposa.
Ilustração de Yoshitaka Amano para o livro "Sandman The Dream Hunters" de Neil Gaiman. Leitura recomendadíssima! |
Um comentário:
Genial!
Vale a pena sim! Essa reflexão, um pouco arrependida (que eu tb já compartilhei de sentimento semelhante), por mais amargurante e desgostosa que seja, te ensina a distinguir entre a lama e o primeiro dia da primavera que pode se tornar a sua vida. Quando vc menos espera, o outono acaba, e as folhas que cairam são absorvidas e dão lugar a novas flores, linda flores, assim, quando vc mesmo espera!
Espero um dia podermos divagar sobre isso...
Att...Um grande amigo"!
D"
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