Em poucos segundos, as glândulas
supra-renais liberam uma quantidade considerável de adrenalina. O suficiente
para o sangue se concentrar nos sistemas nervoso e muscular, dilatar as
pupilas, aumentar a freqüência respiratória e cardíaca. É a reação imediata em
situações de perigo e emergência. E a mesma que me faz levantar no meio da
madrugada quase grudado ao teto.
Nos primeiros dias de rampa, o
efeito do sinal de emergência era devastador. Numa certa madrugada, quando o
alarme tocou longamente – por um grave acidente de rodovia – eu estava com a
pulsação tão forte que sentia o sangue passando pela carotídea sem nem ao menos
encostar os dedos no pescoço. Pensei (seriamente) que teria um infarto.
Não é unânime em todos os
quartéis de bombeiros, mas onde trabalho, os sinais de aviso funcionam da seguinte
forma: acidentes ou emergências que necessitam da ambulância, toca-se uma vez a
cigarra (que produz um som parecido com algumas estridentes campainhas de
portão). Geralmente, quanto mais grave, maior o tempo que o telefonista segura
o botão da cigarra. Dois toques seguidos da cigarra, resgate com o caminhão e
desencarceramentos (esse sinal é mais raro de ser usado). E por fim, quando se
trata de incêndio, o telefonista toca a “Catarina”, a tradicional sirene, que
produz um som que parece um grito saído do próprio inferno!!!
O fato é que, passados os meses,
esses alarmes tornam-se corriqueiros, padrões. Um som enraizado na cabeça dos
bombeiros. E é aí que começam os problemas...
Ao lado da pensão onde eu moro, o
vizinho instalou uma campainha que produz um som idêntico a cigarra do quartel. De vez em quando estou descansando no meu quartinho quando, de repente, o
som da campainha ecoa. Apesar de distante, é suficiente para meu corpo liberar
imediatamente uma descarga de adrenalina. É automático, independente da minha
vontade. Obviamente eu não pulo da cama feito um maluco procurando pela
ambulância, mas imediatamente o sono vai embora e meu coração levemente
acelera. Leva alguns minutos para eu voltar ao normal... E assim ocorre sempre
que um som semelhante chega aos meus ouvidos (inclusive a campainha da casa dos
meus pais...).
Outro hábito condicionado ocorre
com o telefone. Em Campo Mourão, os bombeiros costumam revezar funções: saem no
caminhão, atendem na ambulância e por vezes ficam na central telefônica. Na
central recebemos milhares (sim, é mais de mil mesmo) ligações diárias, sendo a
esmagadora maioria trotes ou enganos. Mas o protocolo mantém-se inalterado.
Telefone tocou: “Bombeiros emergência!”. Essa frase é repetida tantas e tantas
vezes por dia, que certa vez, de folga, na casa dos meus pais, o telefone tocou
e ao atendê-lo, fiquei quase três segundos em silêncio, pensando no que
falaria, pois a única coisa que me vinha à cabeça era: “bombeiros, emergência”.
Por fim, após pensar um pouco, respondi com o tradicional “alô”.
Se não me engano, foi Ivan
Pavlov, um proeminente médico, que introduziu os conceitos de comportamento
condicionado (ele era médico, mas se tornou notório pelas pesquisas na área de
psicologia comportamental...).
E é nos pequenos hábitos da vida
castrense que algumas coisas vão grudando na nossa mente, confirmando teorias
psicológicas e gerando alguns pequenos transtornos, que podem ser vistos – por
que não – como situações engraçadas, dignas do “Bombeirices”...
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