Lembrei-me recentemente de um
causo muito sem noção que aconteceu há uma penca de anos. Mais especificamente
em 2004, quando ocorreu a primeira edição do Festival de Artes da Rede
Estudantil Paranaense, o vulgo FERA. Um projeto audacioso que reuniu colégios
de todo o Estado para uma semana inteira de oficinas e apresentações
artísticas. Na época, estava na metade do ensino médio e desenhava com mais
devoção que hoje. Participei da etapa em Ponta Grossa e, no ano seguinte, em
Castro. O evento era uma verdadeira loucura. Os colégios da cidade sede serviam
como alojamentos para centenas de alunos e professores e as conseqüências disso
eram mais do que óbvias. Estes dois FERA que participei – especialmente o
sediado em Castro – estão entre as lembranças mais felizes que tenho da minha
adolescência, pois foram minhas primeiras experiências de independência, além
de me proporcionar algumas descobertas sobre a vida que eu nunca havia
experimentado antes no meu mundo de livros, videogames e bicicletas.
O episódio específico que vou
contar ocorreu durante o FERA em Ponta Grossa. Naquela semana, fiz uma oficina
de monotipia, uma espécie de arte em vidros, sob a tutela de uma jovem
professora de cabelos curtos e espetados, óculos de armação preta e um estilo
bem alternativo. Lembro do nome dela até hoje, mas por questões de respeito e
privacidade, vou chamá-la pelo nome fictício de... sei lá... Adriana.
Durante a semana fiz a oficina
com uma devoção enorme. Foi uma pena que o tempo e a minha negligência sumiram
com todas as obras que concebi durante o curso. Pois bem, terminado o evento,
regressei para minha querida Guarapuava, e nas semanas seguintes houve a
inauguração de um cinema, coisa que há tempos não tinha na cidade. Óbvio,
fiquei muito animado com a notícia, pois até hoje sou um fanático por filmes.
Não perdi tempo e logo que consegui juntar um dinheirinho, fui para o tão
comentado cinema. Qual não foi a minha surpresa ao ver que uma das funcionárias
do cinema era a Adriana? O mesmo cabelo espetado, óculos de armação preta e o
jeito artista. No mesmo momento me aproximei dela, cumprimentei-a e perguntei
sobre a futura programação de filmes. Conversei como se já fossemos conhecidos
de longa data. Ela, de início pareceu bem surpresa com minha abordagem tão
amigável, mas logo, já proseava comigo na mesma fluência. Durante outras
semanas, sempre que ia ao cinema, chegava até ela e continuava o diálogo sobre
o filme da semana anterior e sobre o que o cinema exibiria futuramente. Até
que...
Num belo dia, cumprindo o costume,
visitei o cinema e reparei que todos os funcionários estavam usando um recém
adquirido crachá. Quando me aproximei de Adriana, arregalei os olhos ao ver que
o nome lá escrito era outro. Nada a ver com Adriana! Parei, prestei atenção, e
de repente, me dei conta de que, realmente, não era a outrora professora de
monotipia, que conheci em Ponta Grossa. A semelhança era incrível, mas de
repente, com aquele crachá exibindo outro nome, comecei a ver as diferenças
entre as duas... Tomando consciência de minha total burrice, e muito envergonhado,
fiquei um tempinho sem reação, até organizar as idéias. Como tinha sido
ingênuo. Durante todo o tempo que fui ao cinema, a tratei como uma conhecida,
mas lembro bem de nunca ter mencionado o nome Adriana. Ou seja, ela mesmo não
reparou meu engano. Por fim, como não queria parecer um idiota, não contei a
história à ela, apenas continuei com o mesmo tratamento amistoso,
que agora já era recíproco.
E após vários meses, a mocinha do
cinema, que não era a Adriana, saiu do emprego e enveredou por outros caminhos.
Lembro da última vez que a vi, nos corredores da universidade, cursando uma
graduação de Humanas. Hoje se eu topar com ela na rua, certamente não a
reconhecerei, mas ficou marcada a divertida lembrança de uma confusão estúpida que
me criou uma amizade, mesmo que temporária.
Acredito que grande parte das pessoas são simpáticas, são
abertas. Basta se aproximar, conversar e ser agradável. Nossa sociedade está
tão paranoica por conta da desconfiança e da violência, que este tipo de coisa
parece estar se extinguindo. Afinal, você consegue se lembrar quantos amigos fez
simplesmente conversando com desconhecidos na rua, num evento ou no cinema? Eu
lembro de alguns!
Por enquanto é isso. Até a
próxima!
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