segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Um dia desses # 07


Lembrei-me recentemente de um causo muito sem noção que aconteceu há uma penca de anos. Mais especificamente em 2004, quando ocorreu a primeira edição do Festival de Artes da Rede Estudantil Paranaense, o vulgo FERA. Um projeto audacioso que reuniu colégios de todo o Estado para uma semana inteira de oficinas e apresentações artísticas. Na época, estava na metade do ensino médio e desenhava com mais devoção que hoje. Participei da etapa em Ponta Grossa e, no ano seguinte, em Castro. O evento era uma verdadeira loucura. Os colégios da cidade sede serviam como alojamentos para centenas de alunos e professores e as conseqüências disso eram mais do que óbvias. Estes dois FERA que participei – especialmente o sediado em Castro – estão entre as lembranças mais felizes que tenho da minha adolescência, pois foram minhas primeiras experiências de independência, além de me proporcionar algumas descobertas sobre a vida que eu nunca havia experimentado antes no meu mundo de livros, videogames e bicicletas.


O episódio específico que vou contar ocorreu durante o FERA em Ponta Grossa. Naquela semana, fiz uma oficina de monotipia, uma espécie de arte em vidros, sob a tutela de uma jovem professora de cabelos curtos e espetados, óculos de armação preta e um estilo bem alternativo. Lembro do nome dela até hoje, mas por questões de respeito e privacidade, vou chamá-la pelo nome fictício de... sei lá... Adriana.
Durante a semana fiz a oficina com uma devoção enorme. Foi uma pena que o tempo e a minha negligência sumiram com todas as obras que concebi durante o curso. Pois bem, terminado o evento, regressei para minha querida Guarapuava, e nas semanas seguintes houve a inauguração de um cinema, coisa que há tempos não tinha na cidade. Óbvio, fiquei muito animado com a notícia, pois até hoje sou um fanático por filmes. Não perdi tempo e logo que consegui juntar um dinheirinho, fui para o tão comentado cinema. Qual não foi a minha surpresa ao ver que uma das funcionárias do cinema era a Adriana? O mesmo cabelo espetado, óculos de armação preta e o jeito artista. No mesmo momento me aproximei dela, cumprimentei-a e perguntei sobre a futura programação de filmes. Conversei como se já fossemos conhecidos de longa data. Ela, de início pareceu bem surpresa com minha abordagem tão amigável, mas logo, já proseava comigo na mesma fluência. Durante outras semanas, sempre que ia ao cinema, chegava até ela e continuava o diálogo sobre o filme da semana anterior e sobre o que o cinema exibiria futuramente. Até que...
Num belo dia, cumprindo o costume, visitei o cinema e reparei que todos os funcionários estavam usando um recém adquirido crachá. Quando me aproximei de Adriana, arregalei os olhos ao ver que o nome lá escrito era outro. Nada a ver com Adriana! Parei, prestei atenção, e de repente, me dei conta de que, realmente, não era a outrora professora de monotipia, que conheci em Ponta Grossa. A semelhança era incrível, mas de repente, com aquele crachá exibindo outro nome, comecei a ver as diferenças entre as duas... Tomando consciência de minha total burrice, e muito envergonhado, fiquei um tempinho sem reação, até organizar as idéias. Como tinha sido ingênuo. Durante todo o tempo que fui ao cinema, a tratei como uma conhecida, mas lembro bem de nunca ter mencionado o nome Adriana. Ou seja, ela mesmo não reparou meu engano. Por fim, como não queria parecer um idiota, não contei a história à ela, apenas continuei com o mesmo tratamento amistoso, que agora já era recíproco.
E após vários meses, a mocinha do cinema, que não era a Adriana, saiu do emprego e enveredou por outros caminhos. Lembro da última vez que a vi, nos corredores da universidade, cursando uma graduação de Humanas. Hoje se eu topar com ela na rua, certamente não a reconhecerei, mas ficou marcada a divertida lembrança de uma confusão estúpida que me criou uma amizade, mesmo que temporária.
Acredito que grande parte das pessoas são simpáticas, são abertas. Basta se aproximar, conversar e ser agradável. Nossa sociedade está tão paranoica por conta da desconfiança e da violência, que este tipo de coisa parece estar se extinguindo. Afinal, você consegue se lembrar quantos amigos fez simplesmente conversando com desconhecidos na rua, num evento ou no cinema? Eu lembro de alguns!
Por enquanto é isso. Até a próxima!

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