Esses dias atrás, sem motivo evidente algum, lembrei de uma antiga coleção de livros que li avidamente no quinto ano do fundamental, no Colégio Estadual Padre Chagas: a Série Salve-se Quem Puder.
Cada livro contava uma aventura
fantástica, seja com investigadores combatendo o crime, viagens no tempo,
castelos assombrados e até um ônibus espacial (ônibus mesmo, igual o Mercedão da Pérola). Seu diferencial é que cada capítulo continha um enigma, um
puzzle que precisava ser resolvido pelo leitor para a aventura prosseguir. O
desafio tinha ligação direta com a história e envolvia desde decifrar códigos
secretos, encontrar o caminho para sair de um labirinto ou achar um pequeno
objeto numa confusão de pessoas e coisas – no melhor estilo "Onde está Wally". E falando nisso, as
ilustrações eram abundantes, coloridas e muito detalhadas, o que era um
fascínio para as crianças e fazia desses livros os mais disputados para
empréstimos na nossa biblioteca.
Eis que, 17 anos depois, me
peguei pensando novamente nesses livros, que foram um bálsamo no meu período
escolar, cujas lembranças são um pouco conturbadas – não tenho saudades de
infância e adolescência. Eles eram tão imersivos que eu me sentia realmente na
trama e, acredito, foram responsáveis por reforçar o hábito de leitura durante
os anos posteriores.
Apesar de pensar no livro, acabei
não procurando na internet (parte preguiça e parte analfabetismo digital para
compras). Mas nessa semana, passando num dos sebos da minha cidade, só pra
“garimpar”, dei de cara com um dos livrinhos do Salve-se Quem Puder. Tenho
certeza que meus olhos brilharam. Peguei-o e imediatamente abordei o dono do
estabelecimento:
- Escuta, tem mais exemplares
dessa coleção?!
- Tem sim, eu vi, mas acho que
estão misturados nas prateleiras...
- Consegue achá-los?
- Sim, mas pode levar um pouco de
tempo.
- Cada um que você achar eu levo.
Agora.
O homem chegou a saltar da
cadeira. Foi hilário. Auxiliei na busca e conseguimos pescar seis. Minha
satisfação era tão grande que até o dono do sebo achou engraçado. No dia
seguinte fui até o outro sebo da cidade e achei mais três. Todos os nove em bom
estado de conservação e carregando uma das melhores coisas que tive na
infância. Mais tarde, já em casa, folheei cada um deles e fui relembrando das
aventuras que tinha lido e vivido na minha fértil cabeça, agora um tanto
preguiçosa.
Sendo adulto é interessante perceber detalhes antes ignorados por
mim, como o trabalho de tradução soberbo feito por Aristides Caruso (os
originais são inglês britânico), onde não apenas a história foi traduzida, mas
todas as mensagens secretas e em código convertidas para o português. Cada
plaquinha, aviso, jornal, bilhete, mesmo sem relevância para a resolução de
enigmas, foi traduzido e incorporado nas ilustrações, além dos nomes dos
personagens adaptados em trocadilhos bizarros, como o arqueólogo professor S.
K. Vadeira, o historiador egípcio Dr. Farah O. e a criminosa C. Lou Lity, chefe
da gangue Kash Kavel.
Não sei exatamente por que pirei
tanto com esses livros. Talvez o fetiche de colecionador, o preenchimento de
uma lacuna perdida em minha memória, ou simplesmente o desejo de futuramente
presentear as crianças mais especiais da minha vida com eles. Enquanto não
decido a resposta, eles ganham um lugarzinho na minha estante, que já está
quase cheia. Em breve precisarei de outra maior, pois agora vou garimpar um a
um até conseguir todos os Salve-se Quem Puder!
Essas jornadas puristas...
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