sábado, 3 de novembro de 2012

Heavy Rain


E mais uma vez as coisas resolveram mudar radicalmente. Após quase dois anos em Campo Mourão, trabalhando no grupamento de bombeiros da cidade, aceitei uma proposta um tanto arriscada e realizei uma permuta para o grupamento de São José dos Pinhais.
E todos os dias que envolveram essa mudança de cidade tiveram uma atmosfera muito estranha. A começar pela insistente chuva, que perdurou desde a sexta-feira em que fui dispensado.  Tornou a viagem um desafio maior, mais interessante e divertido de se recordar.


A rapidez com que as coisas transcorreram também foi estranha. Recebi a proposta para fazer essa troca de grupamentos e, em menos de duas semanas, tudo foi acertado, e a permuta feita. Tive que arrumar meus poucos pertences com pressa e dar um jeito de despachar para Guarapuava três caixas, uma mochila e uma bicicleta (além de um bombeiro e sua moto...). Não houve muito tempo para se despedir, mas ficou um breve tchau para os amigos de Campo Mourão. Os bons colegas bombeiros, que continuarão escrevendo sua Pequena História Vermelha e minha amada família .˙. , que não é de sangue, mas que incondicionalmente me apoiou nessa temporada. Um pedacinho de saudade sempre fica, por mais que o objetivo de ir embora seja maior e mais forte...
A apresentação em São José dos Pinhais, na segunda-feira, reservou suas surpresas.  Tive as tradicionais instruções do quartel, acerto de papelada e mais uma conversa com o comandante do grupamento. E para minha surpresa – boa ou ruim – recebi na mesma manhã minhas atrasadas férias. Boa porque, afinal, férias são férias. Ruim porque me ficou a esquisita sensação de percorrer quase 500 km de estrada para apenas me apresentar no quartel, dizer “oi” e ser dispensado. É óbvio que o sentimento bom prevaleceu!
A volta para Guarapuava foi outra jornada. O tempo insistiu no seu cinza e, em determinado momento, eu e minha moto enfrentamos até uma chuva de granizo em Curitiba. Dormi no apartamento do meu grande Irmão Lucas Zago, companheiro de várias batalhas passadas, e no dia seguinte, esperei a chuva dar uma trégua para então continuar minha viagem. Mas a chuva não passava. 

Lá se foi manhã e metade da tarde, quando então decidi viajar mesmo com a insistente garoa, que não dissipava. Foi uma experiência interessante, apesar de desconfortável. Pilotar na chuva é um teste de habilidade e, realmente, dá muito medo. A chuva piorou em diversos pontos, e não era nem metade do caminho quando eu já estava completamente encharcado. Já estava anoitecendo quando decidi parar em Irati e prosseguir na manhã seguinte.

Fiquei num hotel na entrada da cidade, e após estender as roupas molhadas em cima de todos os pontos de apoio disponíveis do meu quarto, admirei um céu que já começava a limpar. Ri da situação. A chuva resolveu parar justamente quando eu parei. Parecia até de certa forma um teste. Uma viagem de moto de quase 300 km que já durava dois dias, com o tempo carrancudo. E a recompensa enfim chegara, na forma de um pôr do sol como poucas vezes admirei ...

Na manhã seguinte, com um céu anuviado, mas tranquilo, terminei a ida para minha cidade natal, para então descansar alguns dias, enquanto imagino o que me aguarda nesta nova temporada...
Mesmo na semana posterior, já de férias, houve uma insistência nesse clima nublado (e porventura tempestuoso). Isso tudo sempre me soou simbólico, pois sempre me confrontei com muita chuva em situações que preenchem grande parte de minhas memórias. Dias de mudança e abdicação. Dias importantes...
Simbolicamente, me parece um aviso, um conselho: “Se você souber suportar a chuva que cai sobre você, poderá facilmente suportar o peso das outras mudanças, que também vão cair”.

É por isso que eu gosto de tempo nublado...

2 comentários:

Mignoni disse...

Grande Amigo... sempre belas histórias, boa escrita.... e la se vão os velhos tempos a deixar saudades.... Sucesso nessa sua nova empreitada.... abraço meu caro!!!!!

Anônimo disse...

Sucesso na nova etapa, mano.
Quanto contraste neste imenso Brasil, enquanto há muita chuva por aí. Aqui não chove deste agosto! huashuas