Amaranth - Nightwish

Quem curte Nightwish com certeza já ouviu essa música, que durante um bom tempo liderou o ranking musical em vários países europeus.

Quando ainda pensava em ter um blog, prometi que um dia faria a análise do clipe, então aí vai. Pra quem não conhece, vale a pena assisti-lo, um dos mais bonitos que já vi.

O vídeo foi baseado em uma pintura de 1903, intitulada “Wounded Angel”, do artista finlandês Hugo Simberg.

O clipe começa com um homem e um menino (pai e filho, ou irmãos, talvez) que se deparam com um anjo caído próximo ao rio, com os olhos sangrando. Eles prontamente ajudam a bela criatura, lhe fazendo uma venda como curativo e improvisando uma maca. Decidem levá-la (usei o feminino, pois apesar da suposta ausência de sexo angelical, no clipe se vê que é uma anjinha... e das mais bonitas........), e no caminho passam por um vilarejo onde os campônios olham com extrema desconfiança. O desfecho acaba sendo trágico (ou não, vide as interpretações) para o anjo, tendo a casa onde estava incendiada pelos furiosos moradores do vilarejo.

A música permite diversas interpretações. A começar pelo título. Amaranth, ou amaranto é uma flor, cuja origem remonta uma lenda grega sobre um caçador, que seria amante e parceiro de caçadas de Artemis. Tendo enfurecido o deus Poseidon, Amaranth foi tragado por uma gigantesca onda, mas Artemis transformou o amado em uma flor que nunca murcha (remetendo ao Never fading da canção).

Eu tenho uma interpretação simbólica muito particular da música. Particular, pois cada pessoa pode tirar o que quiser dela, achar tantos símbolos quanto possível e levar aquilo para sua vida da forma que for. Ou simplesmente ouvir a música e passar para a próxima do playlist...

Mas enfim, quando a ouço, tenho uma sensação de que acima de tudo, ela fala de redenção (igual a Nemo, que comentarei futuramente). O trecho “Never fading rain in your heart/ The tears of snow white sorrow” me sugere que o rancor, as coisas ruins de meu coração, são como a chuva que nunca esmorece, são a razão da tristeza de alguém que quer se arrepender, ou seja, as lágrimas puras como a neve branca (ou lágrimas da Branca de Neve, consagradamente a personagem mais inocente da história da humanidade, julgo eu...).

É interessante notar também a complementação da música com o clipe. No vídeo, quando  os dois rapazes passam com o anjo pelo vilarejo, as pessoas os encaram com extrema desconfiança. Possivelmente consideraram que o anjo caído só poderia ser algo demoníaco. O detalhe, é que todos os aldeões são pessoas idosas, o que pode ser uma referência ao preconceito, as idéias ultrapassadas e a fé cega: “You believe, but what you see/You receive, but what you give”. Outra coisa que pode ser bobagem minha, mas acho que não foi à toa, é o fato de eles passarem pelos aldeões enquanto cruzam uma ponte.  A ponte é um símbolo de transição, conexão entre duas realidades. No caso, é na ponte que o ser caído se confronta com o mal, que invariavelmente o conduzirá para a prova máxima e a recompensa.

E por fim, quando os aldeões tiram a força os dois rapazes da casa e a incendeiam com o anjo dentro, vejo ali a catarse, o momento crítico onde o anjo, alcançando a redenção, ascende novamente para o céu. Simbolicamente, o fogo representa a purificação, a prova suprema, o INRI: Ignis Naturae Renuvatur Integram... Para mim, um final feliz (exceto para os dois protagonistas, que tiveram a casa queimada...).

Então, posso ter sido extremamente viajado nessa análise, mas eu consigo ver tudo isso nessa música. Ela se tornou muito especial para mim, pois a primeira vez que assisti o clipe, fiquei um tanto perturbado com a historia que se desenrolou nos quatro minutos de canção. Senti uma conexão estranha, coisa que poucas músicas podem fazer.

A ponte eu já atravessei... 2008...