sexta-feira, 19 de maio de 2017

O destino cruzado de três gatos e um bombeiro.


Quem me conhece sabe que, na contramão das opiniões predominantes sobre bichos, eu tenho muita empatia por gatos e não, não gosto de cachorros.
Quis o destino (ou as circunstâncias, ou o acaso, ou a Árvore da Vida) que num curto intervalo minha jornadinha topasse com três bichanos, cujo convívio rendeu uma história completamente prosaica, mas para mim, acalentadora. Para essa história leve, uma trilha sonora condizente.

Segue abaixo:

quarta-feira, 17 de maio de 2017

Como uma moto ajuda a fazer amigos #01



As histórias a seguir são reais. 


Situação 1:
Travessia de balsa para Guaratuba, no famigerado Ferry Boat. Trabalhava em Pontal do Paraná durante a temporada e resolvi farofear em Guaratuba. Peguei a moto, estacionei lá na frente da balsa e me apoiei na mureta, olhando pra água. Uma senhora, acredito que nos seus quarenta e tantos, veio me perguntar sobre a moto: se era confortável, boa para viajar, econômica. Esse é o perfil do aspirante a piloto de Custom, gente com mais experiência de vida que prima por segurança e conforto. Muito de vez em quando me aparece um bonezudo, sempre de pouca idade, e a pergunta quase sempre é: “já pegou mais de 160 com ela?”. Esse perfil de “motociclista” nunca rende muita conversa. Entretanto, felizmente não era o caso com a simpática mulher que me abordara.
A travessia do Ferry Boat é rápida. Não passa de vinte minutos. E nesse terço de hora, tivemos uma rica conversa que começou com moto, foi para viagens, férias na praia e sobre como ela detesta o tempo frio e o clima depressivo de Curitiba, salientando o enorme número de suicídios que ocorre na capital. Contou também ser psicóloga. Expus meu interesse em cursar psicologia e ela comentou sobre o mercado saturado de psicologia clínica. A conversa fluiu como se fôssemos velhos conhecidos. No fim da travessia nos cumprimentamos, trocamos nossos nomes e desejamos bom passeio um ao outro. Segui destino e tenho boa certeza que se cruzar com ela novamente em alguma esquina da capital, não a reconhecerei. Mas aquele dia no Ferry Boat, esse vou guardar por mais algum tempo, acredito eu.

Situação 2:
Caminhava pelo Calçadão da XV, em Guarapuava quando uma Harley Davidson passou na rua, roncando absurdamente alto. Não reconheci de imediato, mas acho que era uma Dina. O fato é que virei o pescoço para admirar a monstrona e um senhor já de idade, cabelo todo branco, chegou próximo de mim e comentou: “essa chama a atenção, né?”. Concordei com ele e dei continuidade a conversa, já que andávamos na mesma direção. Durante a caminhada de duas quadras e mais uma espera no semáforo de pedestres, contei que era piloto de Custom e ele contou sobre as motos que ajudou a cuidar durante a visita do General Geisel (!) em Guarapuava (!!) quando ele serviu o Exército na década de 70 (!!!). Nossa identificação foi quase que imediata. Cumprimentamo-nos, trocamos nomes e eu segui o Calçadão; ele, desceu a Vicente Machado. E mais uma vez, fiz amigos de cinco minutos por causa de moto.
É trivial. Mas de tão trivial, acaba sendo interessante.

quinta-feira, 4 de maio de 2017

Um dia desses #09


Esses dias atrás, sem motivo evidente algum, lembrei de uma antiga coleção de livros que li avidamente no quinto ano do fundamental, no Colégio Estadual Padre Chagas: a Série Salve-se Quem Puder. 


Cada livro contava uma aventura fantástica, seja com investigadores combatendo o crime, viagens no tempo, castelos assombrados e até um ônibus espacial (ônibus mesmo, igual o Mercedão da Pérola). Seu diferencial é que cada capítulo continha um enigma, um puzzle que precisava ser resolvido pelo leitor para a aventura prosseguir. O desafio tinha ligação direta com a história e envolvia desde decifrar códigos secretos, encontrar o caminho para sair de um labirinto ou achar um pequeno objeto numa confusão de pessoas e coisas – no melhor estilo "Onde está Wally". E falando nisso, as ilustrações eram abundantes, coloridas e muito detalhadas, o que era um fascínio para as crianças e fazia desses livros os mais disputados para empréstimos na nossa biblioteca.
Eis que, 17 anos depois, me peguei pensando novamente nesses livros, que foram um bálsamo no meu período escolar, cujas lembranças são um pouco conturbadas – não tenho saudades de infância e adolescência. Eles eram tão imersivos que eu me sentia realmente na trama e, acredito, foram responsáveis por reforçar o hábito de leitura durante os anos posteriores.
Apesar de pensar no livro, acabei não procurando na internet (parte preguiça e parte analfabetismo digital para compras). Mas nessa semana, passando num dos sebos da minha cidade, só pra “garimpar”, dei de cara com um dos livrinhos do Salve-se Quem Puder. Tenho certeza que meus olhos brilharam. Peguei-o e imediatamente abordei o dono do estabelecimento:
- Escuta, tem mais exemplares dessa coleção?!
- Tem sim, eu vi, mas acho que estão misturados nas prateleiras...
- Consegue achá-los?
- Sim, mas pode levar um pouco de tempo.
- Cada um que você achar eu levo. Agora.
O homem chegou a saltar da cadeira. Foi hilário. Auxiliei na busca e conseguimos pescar seis. Minha satisfação era tão grande que até o dono do sebo achou engraçado. No dia seguinte fui até o outro sebo da cidade e achei mais três. Todos os nove em bom estado de conservação e carregando uma das melhores coisas que tive na infância. Mais tarde, já em casa, folheei cada um deles e fui relembrando das aventuras que tinha lido e vivido na minha fértil cabeça, agora um tanto preguiçosa.

Sendo adulto é interessante perceber detalhes antes ignorados por mim, como o trabalho de tradução soberbo feito por Aristides Caruso (os originais são inglês britânico), onde não apenas a história foi traduzida, mas todas as mensagens secretas e em código convertidas para o português. Cada plaquinha, aviso, jornal, bilhete, mesmo sem relevância para a resolução de enigmas, foi traduzido e incorporado nas ilustrações, além dos nomes dos personagens adaptados em trocadilhos bizarros, como o arqueólogo professor S. K. Vadeira, o historiador egípcio Dr. Farah O. e a criminosa C. Lou Lity, chefe da gangue Kash Kavel.
Não sei exatamente por que pirei tanto com esses livros. Talvez o fetiche de colecionador, o preenchimento de uma lacuna perdida em minha memória, ou simplesmente o desejo de futuramente presentear as crianças mais especiais da minha vida com eles. Enquanto não decido a resposta, eles ganham um lugarzinho na minha estante, que já está quase cheia. Em breve precisarei de outra maior, pois agora vou garimpar um a um até conseguir todos os Salve-se Quem Puder!
Essas jornadas puristas...