Toda pessoa precisa de seu porto
seguro. E a cada cidade que passei, procurava um pequeno cantinho, um lugar que
me desse inspiração, calma e, de vez em quando, força para continuar vivendo
minha Demanda...
Em Campo Mourão, o Bosque do Lago
cumpriu essa função.
Sempre que meu turno terminava no quartel, às 8 horas da
manhã, vestia meu uniforme de educação física e corria até o bosque, perfazendo
então mais algumas voltas na pista interna e parando para descansar no pequeno
parque, em meio ao gramado, de frente para o lago e ao lado de uma frondosa
árvore. Esse momento de descanso era sagrado. Acalentava-me nos dias que o
fardo parecia muito pesado. Aliviava a distância de casa, a culpa pelas vítimas
que não sobreviveram, as brigas no quartel, o turbilhão de cenas perturbadoras
que um bombeiro vê turno após turno. Ali eu podia socar o chão, olhar para o
lago tão manso e, eventualmente, chorar um pouco. A solidão era minha amiga
nessas horas, pois sempre corria no bosque pela manhã, horário pouco
frequentado, exceto por um senhor cinquentenário com preparo físico invejável e
um coronel aposentado da Polícia Militar, que corria no local diariamente.
Hoje, em São José dos Pinhais,
esse lugar seguro é o telhado da academia, no posto de bombeiros da Infraero,
no Aeroporto Internacional Afonso Pena. Uma longa escada vertical na parede
externa do edifício leva até uma laje, onde a razoável altura proporciona uma
vista privilegiada. Ao leste, a serra do mar paranaense, com seus montes
escondidos no dégradé de nuvens.
Logo atrás, a oeste, São José dos Pinhais,
pequena e ricamente abençoada quando o sol se põe num banho de luz avermelhada.
Ao norte, é possível ver Curitiba em toda sua imensidão. E logo à frente, uma
privilegiada visão das aeronaves decolando e pousando, numa atividade
barulhenta e constante, 24 horas por dia, sete dias por semana. Eventualmente,
gosto de subir nessa laje e ver o momento exato em que os aviões deixam o chão
e ganham o céu, além de ver quais pilotos conseguem pousar com mais suavidade
na pista de mais de dois quilômetros que atravessa o aeroporto. Para um
bombeiro simples, ver essas máquinas de perto, voando com toneladas de carga e
dezenas de pessoas, é fantástico. É quase um fascínio de infância.
Lembro que em Maringá – onde
iniciei minha jornada de nova vida – eu não adotei um cantinho de paz. O mais
próximo que tinha disso era o fliperama do shopping Avenida Center, onde
extravasava a aflição da escola de soldados nas máquinas de Pump e no cinema.
Mas, óbvio, aquele era um local de grande concentração pública, onde
fervilhavam vozes e a egrégora não era a de silêncio. Somente no final da
escola conheci um Box que vendia tapioca no Mercado Municipal de Maringá. Ali
fiz boas amizades, apesar de breves, e tinha um lugar mais calmo para aliviar e
organizar as idéias. Meu humor melhorou e minhas notas no curso também... Se eu
tivesse adotado um pequeno pedaço de paz logo no início de minha demanda em
Maringá, acredito que muitas coisas teriam sido diferentes. E diferentes para
melhor.
Procure também seu pequeno pedaço
de paz, caso ainda não o tenha. E um dia me chame pra contar a diferença que
isto fez. ;-)
2 comentários:
Belas paisagens, mano. Tenho alguns "pedaços de paz" também, entre elas a vegetação árida durante minhas viagens pelo interior.
Esse aeroporto eu conheço ele, e muito bem; foi aí que passei quase 40 dias fazendo curso, minha passagem de volta pra Maringá.
Abraço Lara.
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