Quando morei em Maringá, durante o curso de soldados do Corpo de Bombeiros, vivia sob uma rotina militarizada e, frequentemente, desesperadora. Acordava (muito) cedo todos os dias, fazia a barba até sangrar os poros, tinha aulas desde manhã até o ocaso do dia e treinava corrida e natação a semana toda. Natação, especialmente, foi um desafio a parte, pois além dos treinamentos no quartel, pagava academia particular e nadava todas as noites que tinha disponível, dado meu fraco desempenho na água, que precisava ser melhorado a qualquer custo. Nessa rotina, era comum ter sono o dia inteiro, e dormir durante uma aula, aliás, PISCAR durante uma aula já era motivo suficiente para ter seu nome anotado e designado para passar parte do final de semana no quartel trabalhando, como forma de punição.
E os meses seguiram em minha obsessão de se tornar bombeiro. Durante o início do curso, abdiquei de tudo. Fiquei meses sem ver minha família, perdi contato com amigos e minha única dedicação era estudar, treinar, estudar e treinar. Loucamente, sem descanso ou trégua.
Não adiantou.
Tomava bomba a cada prova com notas medíocres. E a falta de sono me estressava, me tornando agressivo com as brincadeiras e provocações dos colegas, e fazendo eu me odiar ainda mais, pois sabia que me dedicava apenas àquilo. Durante quase três meses permaneci nesse enlouquecimento até que a solução veio de forma simples e espontânea. Num certo final de semana, peguei minha bicicleta, saí do quartel e descansei minha mente. Ia ao cinema, comprava livros, brincava no fliperama (foi em Maringá que viciei no Pump It Up, a famigerada máquina de dança) e dormia mais. O resultado não foi diferente: minhas notas decolaram e, acredito eu, se tivesse feito isso desde o começo do curso, teria conseguido uma classificação muito melhor como soldado.
Mas o fato que quero ressaltar foi num dos sábados livres, onde eu adorava passear pela quente e divertida Maringá. Durante uma visita ao Mercadão Municipal, parei numa barraquinha de tapioca e garapa, e enquanto não era atendido, folheava uma bíblia deitada no balcão. Logo, fui atendido por uma senhora muito solícita, e conversamos um bom tempo sobre religião, enquanto eu bebia muuuita garapa gelada. Com o passar das semanas, passei a frequentar o lugar e conheci também sua filha, uma jovem que a ajudava nos afazeres. Ambas pessoas muito simpáticas. Durante todos os meses que morei em Maringá, foram algumas das pouquíssimas pessoas novas que conheci (de fora do quartel).
Por fim, em dezembro, recebi de presente um Tsuru, a garça feita em origami, que, de acordo com minha pequena amiga, é um desejo de boa sorte às pessoas que se estima.
A parte triste da história foi nos seguintes meses, quando me formei e fui transferido para Campo Mourão. Numa ida à Maringá, posteriormente, decidi visitar aquela barraquinha de garapa onde as tantas conversas que tive mantiveram meu psicológico no lugar durante o período de curso. O local havia fechado.
E desde então, nunca mais vi a dona e sua filha, que foram duas das amizades mais importantes que fiz nessa fase da minha vida que me mudou tanto. Independente disso, restaram três coisas: as lembranças das divertidas conversas de sábado à tarde; a gratidão pelo apoio psicológico, mesmo que indireto; em um Tsuru.
Que está me levando pra cada vez mais longe...
Um comentário:
Realmente os tempos de escola ficarão para sempre marcados na nossa alma; lembro-me do primeiro dia de natação que você quase morreu afogado e na ocasião, tiveram que realizar um salvamento aquático, rsrsrs ... mas tu perseverou e conseguiu ir adiante! É, agora retornei a Maringá, e quando entrei naquele Quartel Central, todas as memórias referente a escola vieram à tona; não sinto muitas saudades, de verdade daquela sugação, somente dos bons momentos que ali vivemos intensamente e que jamais sairão de nossas vidas ! Valeu !
Um abraço, Sd. Alves.
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