terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Filosofia da Estrada

Entre as várias aventuras destes últimos anos, tem sido marcante pra mim a quantidade de viagens que tenho feito no dedão (a popular carona). Na verdade, eu não estico o dedo na beira da estrada, mas uso plaquinhas indicando para onde vou. É um jeito barato e divertido de pegar estrada, apesar de um pouco arriscado. Mas vale a aventura.

Primeiro de tudo, é que eu sempre peço carona fardado. E com uma identificação de “bombeiro”na plaquinha. Isso ajuda muito, pois grande parte das pessoas que me ajudaram só parou por eu estar fardado. Além disso, existe um espírito fraterno entre os militares, haja vista que muitos irmãos de farda, inclusive da reserva (aposentados), já me ofereceram ajuda pelas várias cidades que zanzei.
Outro fator importante que me ajudou nisso é ser homem. Infelizmente, para as mulheres, pedir carona é atrair problemas. Ainda mais sozinha.
E falando em mulheres, vou destacar, dentre as dezenas de caronas que já peguei por aí, as valentes mulheres que me ofereceram auxílio na estrada. Não parece, mas quem dá a carona passa muito mais medo do que quem pega. Ainda assim, durante minhas viagens, já tive o privilégio de contar com a ajuda de mulheres corajosas, que durante a conversa no trajeto, se mostraram pessoas decididas e inteligentes. Todas elas. O melhor é que a viagem passava que eu nem percebia, pois a conversa sempre fluía.
Mas enfim, fica neste post uma pequena homenagem a todos os destinos que se cruzaram com o meu na beira da rodovia. Pessoas de diversas crenças, classes, personalidades e objetivos. Grande parte delas eu provavelmente nunca mais verei, mas fica um eterno muito obrigado pela ajuda que me ofereceram nos dias em que ansiava por visitar minha família ou voltar para meu trabalho.
E no dia em que eu for o motorista, que Deus me permita ser compreensivo e útil para o estudante ou militar que estiver beirando o acostamento, com uma plaquinha nas mãos e uma cidade no coração.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Um dia desses... # 04

Quando morei em Maringá, durante o curso de soldados do Corpo de Bombeiros, vivia sob uma rotina militarizada e, frequentemente, desesperadora. Acordava (muito) cedo todos os dias, fazia a barba até sangrar os poros, tinha aulas desde manhã até o ocaso do dia e treinava corrida e natação a semana toda. Natação, especialmente, foi um desafio a parte, pois além dos treinamentos no quartel, pagava academia particular e nadava todas as noites que tinha disponível, dado meu fraco desempenho na água, que precisava ser melhorado a qualquer custo. Nessa rotina, era comum ter sono o dia inteiro, e dormir durante uma aula, aliás, PISCAR durante uma aula já era motivo suficiente para ter seu nome anotado e designado para passar parte do final de semana no quartel trabalhando, como forma de punição. 
E os meses seguiram em minha obsessão de se tornar bombeiro. Durante o início do curso, abdiquei de tudo. Fiquei meses sem ver minha família, perdi contato com amigos e minha única dedicação era estudar, treinar, estudar e treinar. Loucamente, sem descanso ou trégua.


Não adiantou.

Tomava bomba a cada prova com notas medíocres. E a falta de sono me estressava, me tornando agressivo com as brincadeiras e provocações dos colegas, e fazendo eu me odiar ainda mais, pois sabia que me dedicava apenas àquilo. Durante quase três meses permaneci nesse enlouquecimento até que a solução veio de forma simples e espontânea.  Num certo final de semana, peguei minha bicicleta, saí do quartel e descansei minha mente. Ia ao cinema, comprava livros, brincava no fliperama (foi em Maringá que viciei no Pump It Up, a famigerada máquina de dança) e dormia mais. O resultado não foi diferente: minhas notas decolaram e, acredito eu, se tivesse feito isso desde o começo do curso, teria conseguido uma classificação muito melhor como soldado.
Mas o fato que quero ressaltar foi num dos sábados livres, onde eu adorava passear pela quente e divertida Maringá. Durante uma visita ao Mercadão Municipal, parei numa barraquinha de tapioca e garapa, e enquanto não era atendido, folheava uma bíblia deitada no balcão. Logo, fui atendido por uma senhora muito solícita, e conversamos um bom tempo sobre religião, enquanto eu bebia muuuita garapa gelada. Com o passar das semanas, passei a frequentar o lugar e conheci também sua filha, uma jovem  que a ajudava nos afazeres. Ambas pessoas muito simpáticas. Durante todos os meses que morei em Maringá, foram algumas das pouquíssimas pessoas novas que conheci (de fora do quartel).
Por fim, em dezembro, recebi de presente um Tsuru, a garça feita em origami, que, de acordo com minha pequena amiga, é um desejo de boa sorte às pessoas que se estima.
A parte triste da história foi nos seguintes meses, quando me formei e fui transferido para Campo Mourão. Numa ida à Maringá, posteriormente, decidi visitar aquela barraquinha de garapa onde as tantas conversas que tive mantiveram meu psicológico no lugar durante o período de curso. O local havia fechado.
E desde então, nunca mais vi a dona e sua filha, que foram duas das amizades mais importantes que fiz nessa fase da minha vida que me mudou tanto. Independente disso, restaram três coisas: as lembranças das divertidas conversas de sábado à tarde; a gratidão pelo apoio psicológico, mesmo que indireto; em um Tsuru.
Que está me levando pra cada vez mais longe...