quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Meu pequeno pedaço de paz


Toda pessoa precisa de seu porto seguro. E a cada cidade que passei, procurava um pequeno cantinho, um lugar que me desse inspiração, calma e, de vez em quando, força para continuar vivendo minha Demanda...
Em Campo Mourão, o Bosque do Lago cumpriu essa função. 
Sempre que meu turno terminava no quartel, às 8 horas da manhã, vestia meu uniforme de educação física e corria até o bosque, perfazendo então mais algumas voltas na pista interna e parando para descansar no pequeno parque, em meio ao gramado, de frente para o lago e ao lado de uma frondosa árvore. Esse momento de descanso era sagrado. Acalentava-me nos dias que o fardo parecia muito pesado. Aliviava a distância de casa, a culpa pelas vítimas que não sobreviveram, as brigas no quartel, o turbilhão de cenas perturbadoras que um bombeiro vê turno após turno. Ali eu podia socar o chão, olhar para o lago tão manso e, eventualmente, chorar um pouco. A solidão era minha amiga nessas horas, pois sempre corria no bosque pela manhã, horário pouco frequentado, exceto por um senhor cinquentenário com preparo físico invejável e um coronel aposentado da Polícia Militar, que corria no local diariamente.
Hoje, em São José dos Pinhais, esse lugar seguro é o telhado da academia, no posto de bombeiros da Infraero, no Aeroporto Internacional Afonso Pena. Uma longa escada vertical na parede externa do edifício leva até uma laje, onde a razoável altura proporciona uma vista privilegiada. Ao leste, a serra do mar paranaense, com seus montes escondidos no dégradé de nuvens. 
Logo atrás, a oeste, São José dos Pinhais, pequena e ricamente abençoada quando o sol se põe num banho de luz avermelhada. 
Ao norte, é possível ver Curitiba em toda sua imensidão. E logo à frente, uma privilegiada visão das aeronaves decolando e pousando, numa atividade barulhenta e constante, 24 horas por dia, sete dias por semana. Eventualmente, gosto de subir nessa laje e ver o momento exato em que os aviões deixam o chão e ganham o céu, além de ver quais pilotos conseguem pousar com mais suavidade na pista de mais de dois quilômetros que atravessa o aeroporto. Para um bombeiro simples, ver essas máquinas de perto, voando com toneladas de carga e dezenas de pessoas, é fantástico. É quase um fascínio de infância.
Lembro que em Maringá – onde iniciei minha jornada de nova vida – eu não adotei um cantinho de paz. O mais próximo que tinha disso era o fliperama do shopping Avenida Center, onde extravasava a aflição da escola de soldados nas máquinas de Pump e no cinema. Mas, óbvio, aquele era um local de grande concentração pública, onde fervilhavam vozes e a egrégora não era a de silêncio. Somente no final da escola conheci um Box que vendia tapioca no Mercado Municipal de Maringá. Ali fiz boas amizades, apesar de breves, e tinha um lugar mais calmo para aliviar e organizar as idéias. Meu humor melhorou e minhas notas no curso também... Se eu tivesse adotado um pequeno pedaço de paz logo no início de minha demanda em Maringá, acredito que muitas coisas teriam sido diferentes. E diferentes para melhor.
Procure também seu pequeno pedaço de paz, caso ainda não o tenha. E um dia me chame pra contar a diferença que isto fez.  ;-)

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Por Deus, pela Pátria, por DeMolay # 04

Desde o fatídico dia que passei pelo Portal Meridiano, meu mundo se tornou outro. Assim como de muitos Irmãos que convivia em Capítulo. Alguns mudaram de estado, indo trabalhar em cidades onde as oportunidades eram melhores. Outros, por sua vez, se espalharam pelo Paraná, especialmente Curitiba, para se prepararem para concorridos vestibulares. Já eu, fui para o norte, morando um tempo em Maringá, e mais outros dois anos em Campo Mourão.
Esse afastamento não deixou de ser sofrido. Tão acostumado à convivência de Irmandade, essa desconstrução me tornou inevitavelmente mais solitário, e de certa forma, perdido. Tive o privilégio de conviver com vários DeMolays das cidades que gentilmente me acolheram, mas tive de amargar a sensação de que a “era” que vivi no Capítulo Eugênio Mancuello chegara ao fim. Agora eram outros DeMolays, uma nova geração que iria escrever sua própria história no Capítulo, e que eu, juntamente com todos os jovens que passaram por lá, nos tornamos apenas histórias, vultos, lembranças de atas...
Entretanto, no meio dessa pequena desolação, me permiti ser feliz de novo. Vez ou outra, encontro com os antigos companheiros de Templo. Destaco especialmente dois reencontros. O primeiro deles foi com meu xará Fábio Suenaga, vulgo “Japetos”. Cientista da Computação que hoje vive em São Paulo, numa carreira promissora. Nesses felizes “acasos” do destino, resolveu visitar Guarapuava nos mesmos dias que eu estava de férias. Marcamos um reencontro entre a maioria  dos DeMolays Seniores de nossa época, e nos embalamos num Happy Hour,  entre lembranças e sonhos futuros. Um encontro breve, mas que valeu cada minuto.

O segundo reencontro foi com meus Irmãos Lucas Zago e João Neto, ambos estudando em Curitiba. O primeiro no caminho para concluir o curso de direito, e o segundo, estudante pré-vestibular, futuro médico. Pela ocasião de minha transferência para São José dos Pinhais, nossa distância diminuiu, o que permitiu combinarmos uma saída como nos velhos tempos, embalada a muita pizza, refrigerante, pizza, reclamações, pizza de novo, e uma comemoração em especial: a aprovação do João Neto em Medicina. Conquista celebrada com... pizza. Mais um dia que valeu a pena. Tanto tempo longe, mas a conversa fluía como se estivéssemos convivendo diariamente. E de certa forma estávamos mesmo. Lá se foram um, dois, três anos, mas uma velha chama de Irmandade insiste em se manter viva, mesmo com distâncias aparentemente tão grandes. E hoje, neste ocaso de 2012, nossos caminhos divergem novamente. O futuro Dr. João Dias Neto em breve vai para o Rio de Janeiro, e meu companheiro Lucas “Bigode” Zago entra em férias e volta para Guarapuava. Mais uma vez meu caminho se torna solitário por aqui, mas com uma acalentadora certeza. Meus amigos estão por aí, distantes, mas sempre próximos em coração.
Viver estes momentos me mostra que o Paraná nem é tão grande assim. E provavelmente o Brasil também não. Geografia não vence certas amizades. Certas Irmandades.
Isto é mais uma coisa que devo agradecimentos a Frank Sherman Land.
Um Tio, um Irmão, o precursor de um sonho.  Que, a propósito, está quase chegando a seu primeiro centenário!