Dia 22 de setembro é o dia mundial sem carro. A data é bonita e eu a sigo militantemente todos os dias com minha querida bicicleta (hehe). Apesar da intenção do dia (diminuir o número de acidentes e poluir menos nosso surrado planeta) só na manhã desta quinta-feira a guarnição que antecede a minha atendeu quatro ocorrências envolvendo veículos, numa estatística muito irônica...
Nesta mesma manhã também ocorreu uma solenidade, reunindo autoridades municipais e como encerramento, o Corpo de Bombeiros realizou um simulado de atendimento a um acidente de trânsito grave. A cena era a seguinte: dois carros destruídos foram colocados frente a frente, simulando uma colisão frontal com três vítimas. Eu, que estava de folga nesse dia, fui convidado pra fazer uma escala extra e ficar de vítima de um dos veículos. Como sou magro e baixinho, adentrei no veículo mais destruído com facilidade, onde seria libertado das ferragens com os desencarceradores hidráulicos. Servir de vítima é interessante, ajuda a ter uma noção do drama que as pessoas acidentadas passam, a única coisa ruim é ficar todo melecado de molho de tomate simulando sangue (se bem que xarope de glicose é ainda pior...).
Mas enfim, o que quero contar foi um ocorrido pouco antes de o simulado iniciar. Os dois carros destruídos, utilizados no evento, foram de ocorrências que aconteceram há alguns meses atrás em Campo Mourão. Um deles vitimou uma família inteira vinda de Curitiba, e o outro (um Astra preto) era de um rapaz que faleceu num acidente envolvendo outros dois veículos. Ambos acidentes terríveis e recentes.
Uma senhora se aproximou do local, chegou perto do Astra e olhou o veículo, como se estivesse o reconhecendo. Deu a volta por trás e não teve dúvidas. Pôs a mão na boca e se retirou do local.
Chorando.
Era a mãe do rapaz cuja vida se foi dentro daquele carro meses atrás.
A intensidade desse momento está me perturbando até agora. Sou novato na Corporação, mas já vi sangue, mortos, gente totalmente destruída, carbonizada... Mas sem dúvida o mais torturante é ver aqueles que ficaram. Com a tristeza desse mundo pesado dos vivos. Esposas viúvas, filhos órfãos, e o pior de tudo, pais e mães enterrando filhos...
De vez em quando bombeiro também chora. Escondido, num cantinho, pois na hora da ocorrência, a única coisa que pode escorrer é suor.
Raciocínio, competência, resiliência. Sem jamais perder a humanidade.
Amém.