domingo, 17 de junho de 2012

A maldição de ser o que se é


Uma das coisas mais torturantes para o espírito humano, acredito eu, é o conflito entre o ser e o querer...

Com o advento das redes sociais pela internet, tornou-se muito mais fácil expor para os outros uma imagem manipulada de nós mesmos. E muito comum também a disseminação de uma filosofia que eu não considero muito correta: a aceitação incondicional de si mesmo. São dezenas de mensagens do tipo: me aceite do meu jeito; sou assim mesmo e ninguém me muda.
Sinceramente, estagnar é coisa de estátuas que vão enferrujando e sucumbindo paulatinamente ao tempo. Meu amor próprio me diz que eu tenho que exterminar o que me impede de me tornar um homem melhor e tornar hábito as ações nobres. Evolução. Isso pra mim deve ser um lema. Evolução física, moral e intelectual.
Fisicamente, hoje faço muito mais exercícios que antigamente, hábito adquirido na marra após meu ingresso no Corpo de Bombeiros e que hoje se tornou um prazer. Mesmo com a recente compra da minha moto, estabeleci que continuaria andando com minha amada bicicleta na cidade e que trilharei os passos para me tornar um triatleta. Meu objetivo não é ganhar músculos com suplementos esquisitos. É ser mais forte, mais rápido, mais habilidoso e mais resistente do que sou hoje. Para que isso me ajude no meu emprego e na minha vida, especialmente no futuro.
Moralmente, tenho talvez meu desafio mais bravo. O mundo dos jovens adultos é meio estranho. Um tanto idealista, uma parcela hedonista... Considero-me muito explosivo e inquieto. A meta é se tornar mais calmo e constante, mais gentil e abnegado. Reclamar menos (a propósito, eliminar a reclamações da minha vida, conforme um livro inspirador que um dia comentarei no blog) e controlar meu vocabulário, que de vez em quando me torna alguém muito desagradável. E em paralelo à evolução moral, tenho minha fé, o aspecto espiritual, que eu quero lapidar me tornando mais confiante em algo superior. E principalmente, exercitar a tolerância com o oceano de pessoas que seguem outro credo, e principalmente, aos que não seguem fé alguma e atacam os que buscam uma religião. Enfim, respeitar e respirar fundo quando as opiniões acerca da vida não forem iguais as minhas.
E por fim, evolução intelectual. Ler, estudar, opinar, questionar. Tentar entender uma parcela do que ocorre no mundo. Não desprezar nenhum conhecimento. Quando fazia minha graduação em Física, era muito comum entre os acadêmicos um desprezo com as áreas humanas, o que considero até hoje um erro. Penso que o verdadeiro intelectual deve ser um Universalista, prezar por todas as áreas do conhecimento e estudá-las com interesse. No meu caso, quero terminar meu último ano de Física, e continuar um entusiasta de psicologia e literatura. E, claro, escrever com mais constância, para aprender a organizar minhas idéias no papel e limar aos poucos os erros de língua portuguesa que cometo.
Enfim, como diria um de meus aforismos favoritos no simples – mas confortante – Minutos de Sabedoria: “o mundo não é um parque de diversões, mas um ambiente de trabalho”. Mudar é necessário e eu quero fazer isso. Sempre para melhor. O caminho é complicado e há dias muito desanimadores, quando desvio os olhos do horizonte e sou cercado pela escuridão

Uma batalha interna, discreta, mas intensa. Uma busca pelo fim da maldição de ser o que se é...

PS: Aos que se interessarem em conhecer e lutar contra sua própria escuridão, pesquisem: Carl Jung Arquétipo Sombra.

terça-feira, 12 de junho de 2012

Antes que o outono comece...



Sentimentos são coisas inevitáveis e muito estranhas. Por mais que meu escudo de frieza insista nesse assunto, vez ou outra, sou fisgado por uma nova poesia de corações e sombra em minha cabeça.
Existe sim uma carência latente em cada pessoa. Nunca acreditei na conversa de alguns que alegam não sentir necessidade alguma de compromisso ou carinho. Em minha opinião, esse alguém guarda um remorso por não ter achado a pessoa certa. Não uma alma gêmea, um predestinado, apenas outra pessoa, também carente, que disponha de um tanto de equilíbrio emocional, alguns gostos parecidos, boa vontade, paciência e uma aparência agradável para o companheiro.
Sonhos e projeções pueris também fazem parte desse cenário. É o que torna a coisa açucarada e encantadora. O excesso provavelmente virá a ser prejudicial (e muito embaraçoso para amigos que se tornam testemunhas forçadas), mas a dose de poesia num romance sempre é bem vinda.
E é nesses sonhos e projeções, que colecionei dentre os vários anos de tormentosa adolescência até hoje, que guardo, até mesmo com carinho, todos os meus fracassos e devaneios...
(Caso você não seja diabético e tenha coragem e estômago suficientes para ler algo sem sentido, clique em Continuando, logo abaixo. Caso contrário, já fico agradecido da visita. O que tinha para o dia 12 de junho fica nisso.)


quinta-feira, 7 de junho de 2012

Um dia desses... # 06


Nunca acreditei nesse papo de que ter uma moto (ou outro veículo automotor qualquer) fosse a mesma coisa que criar um filho. Até o dia que comprei minha moto e concluí que é verdade mesmo... pelo menos financeiramente e na questão de cuidados, que tornam-se mais acentuados e frequentes do que os que eu sempre dispensei para minha bicicleta, que continua minha fiel companheira na cidade.
Mas o fato que quero narrar se deu justamente quando, após um dia inteiro procurando pela cidade (de bicicleta), achei uma determinada peça para moto num ferro velho. Era final de tarde, mas durante o dia todo houve uma recusa em amanhecer. Não me lembro de ter presenciado dias tão cinzentos em Campo Mourão, mas sim, apenas na minha saudosa e soturna Guarapuava. Com a noite se aproximando e feliz por ter encontrado a peça, voltei para a pensão pela rua da Paróquia Nossa Senhora Aparecida, na vila Urupês. Faltando algumas quadras para meu destino, me deparei com uma destas pequenas cenas de cotidiano que tornam meus dias simples mais felizes. Era noite de feira livre.

A cada dia da semana a feira ocorre em determinado bairro de Campo Mourão. Logo que me mudei para cá e ainda morava no Montes Claros, lembro-me que era quase um hábito sagrado visitar a feira as sextas, vendo a movimentação na praça e enchendo a barriga de pastel, bolo e caldo de cana. Entretanto, quando mudei para o centro, esse hábito se perdeu nas cinzas, substituído naturalmente pelos hábitos de uma nova rotina.
Mas eis que, naquela terça monocromática e fria, lá estava a feira livre. Me recepcionando. Não resisti. Desmontei da bike e novamente fascinado, olhei as barraquinhas com frutas, legumes e toda a sorte de lanches e quitutes. Melhor que isso era observar como as pessoas percorriam o local numa paz que não estou acostumado na cidade... Apesar de pequena, Campo Mourão não é o perfil de uma cidade pacata. Quem duvida disso, pergunte para algum policial militar ou bombeiro. São muito comuns as mortes por armas de fogo e armas de combustível, motor e rodas... Mas ali, naquelas duas quadras com iluminação laranja, as pessoas conversavam despreocupadas e o clima era de uma pequena vila. Durante meu trajeto, um menino de aproximadamente seis anos olhou fascinado para minha bicicleta e disse: “olha pai, uma bicicleta com luzes!”. Sorri para ele. E logo após comer um pastel, daqueles que misteriosamente tem “gosto de feira”, o menino novamente me abordou: “ei moço, essa caneta é sua?”, referindo-se a uma caneta encontrada no chão, ali perto. O objeto não me pertencia, mas minha identificação com a criança foi quase imediata. Educadamente, o menino se retirou e voltou para a companhia do pai, que pelo discreto sorriso, parecia orgulhoso de criar um rapaz educado já em tenra idade.
Quanto a mim, segui destino logo após, com a noção de que criar um filho e manter uma moto são duas coisas bem onerosas e ocupantes. Mas o prazer de se fazer isso é evidente. O da moto é sentir o vento no rosto na imensidão da estrada em frente. E o do filho, vi hoje, ao olhar o rosto daquele pai.


É por isso que eu gosto de feira.