sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Um dia desses... # 02


Dia 22 de setembro é o dia mundial sem carro. A data é bonita e eu a sigo militantemente todos os dias com minha querida bicicleta (hehe). Apesar da intenção do dia (diminuir o número de acidentes e poluir menos nosso surrado planeta) só na manhã desta quinta-feira a guarnição que antecede a minha atendeu quatro ocorrências envolvendo veículos, numa estatística muito irônica...
Nesta mesma manhã também ocorreu uma solenidade, reunindo autoridades municipais e como encerramento, o Corpo de Bombeiros realizou um simulado de atendimento a um acidente de trânsito grave. A cena era a seguinte: dois carros destruídos foram colocados frente a frente, simulando uma colisão frontal com três vítimas. Eu, que estava de folga nesse dia, fui convidado pra fazer uma escala extra e ficar de vítima de um dos veículos. Como sou magro e baixinho, adentrei no veículo mais destruído com facilidade, onde seria libertado das ferragens com os desencarceradores hidráulicos. Servir de vítima é interessante, ajuda a ter uma noção do drama que as pessoas acidentadas passam, a única coisa ruim é ficar todo melecado de molho de tomate simulando sangue (se bem que xarope de glicose é ainda pior...).
Mas enfim, o que quero contar foi um ocorrido pouco antes de o simulado iniciar. Os dois carros destruídos, utilizados no evento, foram de ocorrências que aconteceram há alguns meses atrás em Campo Mourão. Um deles vitimou uma família inteira vinda de Curitiba, e o outro (um Astra preto) era de um rapaz que faleceu num acidente envolvendo outros dois veículos. Ambos acidentes terríveis e recentes.
Uma senhora se aproximou do local, chegou perto do Astra e olhou o veículo, como se estivesse o reconhecendo. Deu a volta por trás e não teve dúvidas. Pôs a mão na boca e se retirou do local. 

Chorando.

Era a mãe do rapaz cuja vida se foi dentro daquele carro meses atrás.
A intensidade desse momento está me perturbando até agora. Sou novato na Corporação, mas  já vi sangue, mortos, gente totalmente destruída, carbonizada... Mas sem dúvida o mais torturante é ver aqueles que ficaram. Com a tristeza desse mundo pesado dos vivos. Esposas viúvas, filhos órfãos, e o pior de tudo, pais e mães enterrando filhos...
De vez em quando bombeiro também chora. Escondido, num cantinho, pois na hora da ocorrência, a única coisa que pode escorrer é suor.

Raciocínio, competência, resiliência. Sem jamais perder a humanidade.
Amém.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Espelho paterno e sorvete superfaturado

Ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais...
Esse verso nunca foi tão verdadeiro, especialmente pra mim. Certo dia, em que estava de serviço, um colega e eu conversávamos sobre nossos pais (no caso dele, in memoriam). Meu colega deu risada quando falei da juventude do meu pai. Fui acusado de plagiar a vida do meu velho. E não é pra menos. Quando parei pra analisar, até me deu um arrepio...



Meu Pai: José Acyr de Lara (vulgo Zezinho, Caloi...)
- Começou a trabalhar formalmente com 16 anos (apesar que já fazia bico muito antes);
- Andava de bicicleta todo dia, o dia inteiro;
- Morou numa pensão;
- Mandou a faculdade (Geografia) pra putaquepariu no último ano pra resolver sua vida e a da família;
- Fazia teatro;
- Escreve poesias e compõe músicas;
- Viajou o Paraná inteiro (e um tanto do Brasil) com o grupo de jovens que pertencia (Coral Universitário);
- Quando estabilizou no serviço, comprou a moto mais invocada da época.

Eu: Fábio Batista Lara (vulgo Frodo, Dee...)
- Comecei a trabalhar formalmente com 16 anos (estagiário, mas tá valendo)
- Ando de bicicleta todo dia, o dia todo;
- Moro numa pensão;
- Mandei a faculdade (Fïsica) pra putaquepariu no último ano pra virar bombeiro e resolver a minha vida e da minha família;
- Fiz teatro por anos, e se pudesse, faria até hoje;
- Escrevo poesias e já compus música;
- Viajei o Paraná inteiro (e um tanto do Brasil) com o grupo de jovens que pertenci (Ordem DeMolay)
- Em breve – mais estável no serviço – comprarei uma moto Custom (e vou pegar estrada!);

Outra coisa engraçada que meu pai me contou foi quando começou a trabalhar estavelmente e resolveu não passar mais vontades (em vista da infância penosa que teve). Comia doces e porcarias todo dia, tendo uma particular obsessão por leite condensado na lata (mania que o mandou para o hospital certa vez...).
No meu caso, recentemente, já bombeiro formado, comecei com algumas manias esquisitas, tipo, comprar playmobil e comer Kinder Ovo pra ganhar o brinquedo surpresa (minha infância foi muito melhor que a do meu pai, mas como toda criança brasileira padrão, passei vontade de muita coisa...). Outra coisa também que me atacava as lombrigas, mas não tinha coragem de fazer, foi comprar um certo sorvete da marca Haagen Dazs. No começo desse mês, com o pagamento na conta e o bolso fofo, resolvi experimentar a guloseima. Gastei preciosos vinte reais num potinho de sorvete de cheesecake com morango e bem, o que tenho a dizer: maravilhosamente delicioso é, mas pode ter certeza que é o tipo de coisa que valeu só pela experiência única. E que fique nisso.
Recomendação: se você trabalha, paga suas contas e faz malabarismo com suas economias, vale experimentar, mas tem muito sorvete mais barato e quase tão gostoso quanto... agora, se dinheiro não for seu problema, pode comprar e me chama pra comer junto!